Pior para pequenos





Pesquisa divulgada nesta semana pela Boa Vista SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito), sobre a situação das empresas nacionais, chegou a surpreender até mesmo os mais pessimistas. O estudo demonstrou que os pedidos de falência tiveram alta de 31,6% no primeiro trimestre de 2016 em relação ao mesmo período de 2015.

Somente no mês passado, os pedidos de falência aumentaram 13,5% na comparação mensal e 25,2% se comparados a março de 2015.

Neste primeiro trimestre, as falências decretadas subiram 6,6% em relação ao período equivalente do ano anterior. Na comparação interanual, cresceram 17,2% e 28,9% ante o mês anterior.

Os pedidos de recuperação judicial e as recuperações judiciais deferidas, no acumulado do trimestre, também seguiram tendência de alta, registrando 165,7% e 172,3%.

Os números acumulados no primeiro trimestre de 2016 surpreenderam – apesar de a crise estar escancarada – porque, no primeiro trimestre de 2015, os pedidos de falência recuaram 5,8%, enquanto os de recuperação judicial caíram 15,2%. E isso em um ano já francamente afetado pelos problemas econômicos e políticos.

É indiscutível que a fraca atividade econômica e os elevados custos comprometeram violentamente o caixa das empresas ao longo de 2015, e os pedidos de falência fecharam aquele ano com crescimento de 16,4%. Já as recuperações cresceram 51,0%. A tendência de alta não só continuou como se intensificou no primeiro trimestre deste ano.

Diante desse quadro desolador, a perspectiva é ainda mais dramática para os “pequenos” (empreendedores) e, consequentemente, para os trabalhadores (ora chamados de “colaboradores” pela linguagem politicamente correta, como se isso fosse resolver algum problema).

Ocorre que as micros e pequenas empresas ainda são as maiores geradoras de empregos, e elas estão quebrando com mais facilidade, exatamente por serem mais frágeis financeiramente que as grandes.

A pesquisa explicita essa realidade: as pequenas empresas representaram, no trimestre, cerca de 88% dos pedidos de falências e 89% das falências decretadas.

Tanto nos pedidos de recuperação judicial como nas recuperações judiciais deferidas, as pequenas empresas também correspondem ao maior percentual: 91% em ambas.

Na divisão por setor da economia, o de serviços foi o que representou mais casos de pedidos de falência (40%), seguido do industrial (34%) e do comércio (26%).

Embora não seja o setor responsável pelo maior percentual de falências, o industrial foi o único que cresceu acima dos 31,6%: indústria (46,6%), serviços (26,1%) e comércio (23,1%).

O indicador de falências e recuperações judiciais é construído com base na apuração dos dados mensais registrados pela Boa Vista SCPC, oriundas dos fóruns, varas de falências e dos “Diários Oficiais” e da “Justiça” dos Estados.

Naturalmente, embora não exista perfeito consenso com relação às previsões quanto ao futuro do país, a imensa maioria dos economistas – tal a maioria da população diante da possibilidade de impeachment – entende que, se o governo se mantiver, a crise se agrava mais e mais.

Um desses economistas que integram a “quase” unanimidade é Luís Paulo Rosenberg, consultor, com carreira destacada nas áreas acadêmicas, empresarial e pública, bacharel em economia pela USP, mestre e PHD em economia pela Vanderbilt University.

Rosenberg já atuou como assessor do ex-ministro Delfim Neto e comentarista econômico na “Folha de São Paulo”, nas rádios Jovem Pan, Eldorado, Bandeirantes e na revista “Carta Capital”.

Resumidamente, no programa “Canal Livre” (Band) do final de semana passado, ele observou que, se o governo não cair, teremos a volta da hiperinflação, à semelhança da era pré-real, com o recuo à condição de miserabilidade de grande parcela da população.

No mesmo desmoronamento morro financeiro abaixo, despencam à classe “econômica” inferior todos aqueles que ascenderam à classe média nos últimos anos. E, assim, seriam soterradas todas as tais “conquistas sociais” tão capitalizadas politicamente pelo governo.

Outro aspecto sombrio é a possibilidade de ainda maior cisão social, vez que a presidente pode se safar, sim, e em função do chamado “baixo clero” da Câmara Federal, formado por figurantes indiscretamente fisiologistas.

Esse pessoal, constituído na maioria (não no todo) por parlamentares do Norte e Nordeste, segundo a grande imprensa e oposicionistas, estaria sendo “comprado”, sem cerimônia, com cargos e dinheiro para votar contra o impeachment, ou simplesmente para pegar dengue ou chikungunya no dia da votação.

Caso essa hipótese se concretize, além da já delicada e inconveniente fissão política entre vermelhos e verde e amarelos, poderia surgir outra indisposição, estimulada pelo fato de que a presidente teria sido salva (como fora reeleita) com peso decisivo oriundo do Norte e Nordeste – então, por parte de seus deputados.

O enredo não é absurdo, até porque os parlamentares dessas regiões estão muito menos sujeitos ao descontentamento popular, dado os programas sociais serem muito mais presentes em seus rincões eleitorais. Para eles, votar a favor do governo, portanto, não seria necessariamente perder votos nas próximas eleições…

Frente a tantas dúvidas, uma coisa é certa: “haja o que houver”, o sectarismo político deve crescer à proporção da crise e as perdas sempre serão mais intensas para os “pequenos”, patrões e empregados, de norte a sul, de leste a oeste.