Pescaria da fome

No portão da entrada da antiga Fábrica São Martinho, havia um cantinho com alguns tocos de madeira que serviam de bancos para uns amigos operários.

Próximo ao final de semana, tramaram ir no bairro de Americana fisgar uns bons peixes. Eram eles: Laureano Liete, João do Carmo, Messias, Tonico Carpinteiro, Foster e o Cesário Camargo – este último, mestre da tecelagem e exímio tecedor de tarrafas.

O Zuza era proprietário de um caminhãozinho, cuja carroceria ficava lotada de pescadores que, finalmente, rumaram para o rio Sorocaba. Junto deles, espremido, o Nhô Pasqualote.

O local escolhido para pescar foi o remanso, mais conhecido como “Régua”. Ficava logo abaixo da usina geradora de energia, onde era fácil atravessar o rio apenas andando entre as pedras, e é o que fizeram: atravessaram para o outro lado e, imediatamente, jogaram as tarrafas.

As horas foram passando e nada de peixe. Para distraírem um pouco, o garrafão passava de mão em mão, uma talagada aqui, outra ali, e o tempo passando. E a fome atacando!

Ninguém havia levado alguma coisa para comer. Ninguém! A fome era tanta que a barriga de todos roncava tanto que estava espantando os minguados peixinhos.

– Vamos embora- alguém gritou.

Corre-corre geral. Alguns subiram no caminhãozinho só de cuecas. Que se dane a bunda, eu quero é comida!

Foi aí que o Nhô Pasqualote subiu numa pedra e gritou:

– Tenho uma lata de sardinha em minha sacola! Enfiou a mão na dita cuja e sacou a tímida latinha. Tonico, fazendo menção de que ia pegar a lata para dar um pedacinho para cada um, atirou-a no meio do rio, dizendo:

– É muito pouco para muita gente.

De novo no corre-corre, teve um que desmaiou.

Pois é, como dizia o saudoso Joaquim Mistura: “É arriscado viajar sem virado!”.