Pequeno de tamanho, grande de coração

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Bem, nesta semana, conversei com o grande amigo, radialista, leiloeiro de animais, cantor, uma pessoa que é uma força viva dentro de Tatuí. Sempre pronto a emprestar o seu talento para as causas sociais. Alegre, apesar dos percalços da vida, sua estatura é pequena, mas o seu coração é do tamanho do mundo.

Como radialista e apresentador de eventos ao vivo, tem sido um grande ícone, que mantém viva e acesa a chama do folclore, da música raiz, do cururu e de sons que não se ouvem mais em muitas rádios da nossa região, do nosso Estado e, por que não dizer, do nosso país.

Sempre levando alegria nas tardes tatuianas e aos domingos, com shows e bailes populares, onde sempre impulsiona os que estão iniciando na carreira artística. Com uma voz forte, sempre que pode, canta uma canção gaúcha que acredito ser a sua predileta, “Tordilho Negro”, de autoria do Teixeirinha.

E, agora, “copiando o rei Roberto Carlos”, com vocês, meu amigo Helinho Beijo-Frio.

Seu nome original?

Aurélio Serrão Correia.

Por que Hélio Beijo-Frio? De onde veio esse nome?

Hélio Beijo-Frio – Esse nome é o seguinte: eu tive por 18 anos a Sorveteria Beijo-Frio, na rua 11 de Agosto, e, depois, na José Bonifácio. Devido ao nome da sorveteria, fiquei conhecido por Beijo-Frio. O povo mesmo é que denomina e, depois, faz com que o sobrenome fique conhecido.

Nascido onde, dia, mês e ano?

Hélio Beijo-Frio – Nasci no bairro do Guaxingu, município de Tatuí, no dia 8 de setembro de 1949.

Quando começou a trabalhar na Rádio Notícias de Tatuí?

Hélio Beijo-Frio – Comecei nos anos 90, especificamente, em 1998. Eu comecei na Rádio Notícias por acaso, até porque, nunca tinha trabalhado em rádio. Somente conhecia um pouco de microfone através do Clube de Rodeio. Fui um dos criadores do Clube de Rodeio e, dali para cá, comecei a usar microfone.

Mas, um dia, uma pessoa da minha família perguntou para a Alessandra (Vieira de Camargo Teles) por que ela não me chamava para apresentar um programa.

Eu havia saído de uma cirurgia cardíaca e estava entrando em depressão. Era minha terceira cirurgia. A Alessandra foi muito solidária, muito amiga, e me chamou para começar na Rádio Notícias, na qual eu estou até hoje. Comecei sem gravar um único piloto, sem fazer nenhuma estreia. Ao vivo mesmo.

Por que resolveu partir para esse lado do folclore, de divulgar a música raiz, o cururu, resgatar e manter viva a tradição na nossa região da música sertaneja?

Hélio Beijo-Frio – O primeiro programa que eu apresentei na Rádio Notícias, em 1998, foi o “Roda de Violeiros”. Programa esse que já vinha de muitos anos, inclusive, com auditório. Ele tem, na primeira parte, o cururu e, na segunda, as duplas sertanejas. É um programa tanto folclórico como sertanejo.

Por outro lado, já existiam, na época, os grandes cururueiros como participantes. Nós colocamos um nome novo no programa, que está até os dias de hoje, cada vez com mais sucesso, graças a Deus e à Rádio Notícias, também.

Quando você vê a música sertaneja, ela mudou muito. A denominação de forró universitário, música universitária, nada mais é que um rótulo jovem, com letra jovem que, na grande maioria das vezes, não tem nada de sertanejo.

Hélio Beijo-Frio – A própria história diz, você pode notar que há uma inversão de valores. Por exemplo, o sertanejo, hoje, é universitário. Mas, você sabe que a música sertaneja raiz, ela é eterna, enquanto que as outras são passageiras.

Acontece que a instrumentação é outra, a aparelhagem é outra. Então, isso fez com que a música trouxesse mais som, e a juventude gosta de barulho, de som na caixa. É por isso que se cria um som mais animado, com o sertanejo atual.

Numa ocasião, fui apresentar um programa em Boituva, onde cantaram Liu & Léo e uma dupla de Tatuí, que se apresentava nos videokês das noites. A dupla de Tatuí cantou primeiro; Liu & Léo cantaram depois. Mesmo sendo uma dupla consagrada, o público jovem pediu para a dupla que cantava em karaokê voltar para o palco, menosprezando, praticamente, os cantores de sucesso.

Hélio, sou seu amigo, sou seu fã. Você é uma pessoa autêntica, sempre envolvida com causas sociais. Você não acha que a mídia, o medo e a insegurança estão acabando com o lazer popular? Festas em bairros rurais, leilões de prendas e assados. Isso está acabando?

Hélio Beijo-Frio – Sim, nós temos um exemplo muito próximo, que é o bairro dos Mirandas. Ele sempre foi um dos pioneiros em festa de bairro rural, com a Festa do Divino, na comunidade de São João. E, no entanto, acabaram com ela devido à insegurança, ao medo de sair briga ou, quem sabe, uma tragédia.

Sempre ouço o seu programa “Tarde Total”, pela Rádio Notícias de Tatuí – AM, todos os dias, das 15h às 16h. A sua linha musical é sempre essa: música sertaneja antiga e cururu. Acredito que você seja o único que não foi engolido pela tal música universitária. A que se deve você manter levantada essa bandeira?

Hélio Beijo-Frio – Sempre falo que a música sertaneja é um cerne, o cerne nem grampo cala, ele é eterno. Praticamente, o gênero é aquele que o seu bisavô gostou, o meu pai gostou, os meus filhos gostam. Embora eles estejam mais para o universitário.

Por outro lado, a música raiz também é cultivada, porque – você é artista e sabe disso, já apresentou muitos shows e cantou em muitos – as pessoas pedem as músicas raízes, como “Chico Mineiro”, “O Menino da Porteira”, e vai por aí.

Essas músicas são eternas, elas não morrem. Além disso, a pessoa tem que ser eclética, hoje em dia. Para ser artista, tem que cantar todos os gêneros, porque o povo pede, e o povo é quem manda no show.

Você, todo domingo, apresenta o programa em uma chácara, com transmissão pela Rádio Notícias de Tatuí. Onde fica essa chácara e como o pessoal pode ir para lá, para participar desse evento?

Hélio Beijo-Frio – A Chácara Fogaça, na qual nós apresentamos os programas aos domingos, fica no Jardim Gonzaga, atrás da Cerâmica Bronze, ali como quem vai para Cesário Lange, por dentro.

Fazíamos o programa na Nanci Festas, no centro, mas, devido à reclamação de vizinhos, porque o som incomodava pessoas idosas, achamos por bem mudar.

O Herbert abriu espaço na chácara dele, e nós levamos o programa para lá. O local tem dois estacionamentos, dois salões amplos e até um “playground” para a criançada. O nosso programa é familiar, onde vão filhos, netos. E ele está numa crescente, porque recebemos duplas de outros Estados. Pessoas de Minas Gerais, do Paraná e Mato Grosso vêm aqui para participar.

Artistas de rádio e televisão, também. São pessoas que estão no auge do sucesso, como a dupla Poeta & Jacira, e muitos outros, como Guaira & Guaíba. São duplas renomadas que fazem com que nosso programa fique cada vez melhor.

E de Tatuí, quem são as duplas que você cita como novas e que estão cantando por aí?

Hélio Beijo-Frio – Nós temos grandes revelações, inclusive, duplas que se formaram há pouco tempo e já estão cantando nos canais de televisão e em outros Estados.

Duplas que participaram e participam de festivais, como Zelão e Cleber, uma das mais animadas daqui. O Herbert Brasil & Cancioneiro também formam dupla que vem fazendo muito sucesso. Tem o Julinho e o Paraguai também, que cantam muito, e muitos outros que eu vou até passar batido, cometer um pouco de, digamos, injustiça, por não lembrar o nome de todo mundo nesse momento.

Hélio, o Teixeira, o Coronel do Sertão, foi uma pessoa em que você se espelhou para continuar esse trabalho? Em qual ponto ele marcou você?

Hélio Beijo-Frio – O Teixeira foi uma referência. Acho que todo mundo que gosta de música e dos programas de rádio, certamente, copiou um pouco dele. O Teixeira era uma pessoa extrovertida, um cara que lia muito, inteligente, era um compositor. Só intérprete ele não era, mas, no mais, ele era uma pessoa muito criativa. Então, o Teixeira foi, sem dúvida, um dos maiores nomes do rádio.

Só para você ter uma ideia, quem frequentava a minha sorveteria era o Toninho Del Fiol, que você conheceu como “a voz do Mappin” e tudo o mais. Ele falou que, quando vinha para Tatuí, tinha prazer em ouvir o Teixeira, devido àqueles quadros que tinha, o “Caixão do Defunto”, “Histórias que o Teixeira Conta”. Ele era muito criativo, faz falta até hoje é referência.

Hélio, como você sabe, Cesário Lange sediou, recentemente, uma noite de cururu, com os cantadores Augusto Moraes; Gilmar Inácio; Zé Maria Neto, o Zezão; e Roque Martins; e os violeiros: Zé Mulato e Jaime Ribeiro. O prefeito Ramiro e o vice Dinho estão pensando em fazer um festival. O que você acha de Cesário Lange, através de um projeto cultural, implantar um festival de música raiz?

Hélio Beijo-Frio – Acho superinteressante, mesmo porque, Cesário Lange é um celeiro de grandes cururueiros. Nós temos, lá, Roque Martins, Zezão Neto, Chiquinho Rodrigues, Mauro Costa. Temos também, em Cerquilho, Gilmar Inácio.

Tatuí também entra na jogada. No meu programa, pelo quadro “Cidade Contra Cidade”, uma dupla de cururueiros de uma cidade disputa contra a outra. Então, vira uma contenda, um embate bonito, por quê? Porque você sabe que o cururu é bastante dinâmico, cada um busca o assunto que quer.

Eu digo que o cururu ele é como se fosse o trabalho de um criminalista, no qual, às vezes, uma vírgula pode mudar o rumo do processo.

E em termos de cururu em Tatuí, quem são os grandes cantadores que pode citar. Eu sei do Zé Pinto, Buenão, e quem mais?

Hélio Beijo-Frio – Aqui, tem uma tristeza muito grande que abate a gente. Nós perdemos grandes cururueiros. Inclusive, quero mandar um grande abraço para um grande colaborador nosso, um grande admirador de cururu e apresentador, o Dito Avião. Ele é uma pessoa muito especial, principalmente para mim, no que diz respeito ao cururu e à “Roda de Violeiros”.

Nós perdemos o Noel Mathias, que era um catedrático no cururu, o Garotão, Manuel Bernardo, Airton Pires, Roque de Paula, Adauto de Paula, Horácio Neto, Valdemar Américo, Tico Ferro e outros que viviam cantando por aqui.

Eu acompanho o cururu desde o tempo do teatro Rosário, na praça do Barão, onde cantavam Nho Serra, Pedro Chiquito, Horácio Neto, Parafuso e muitos outros. São grandes cururueiros, conhecidos como os bambambãs do cururu.

Hélio, no cururu no canto trovado de texto bíblico, nós temos o grande Luizinho Rosa. Como você vê e avalia a importância do trabalho dele?

Hélio Beijo-Frio – Voss, eu vou me referir não só ao Luizinho Rosa, mas a outros. Nós perdemos, na semana passada, o Moacir Siqueira. O Luizinho Rosa, além de cururueiro, era grande compositor. Haja vista que ele tinha músicas gravadas por duplas de renome, como Pedro Bento & Zé da Estrada, que ganharam discos de ouro, e Goiano & Paranaense, que gravaram “O Poder do Criador”.

E quando se fala em cururueiros, eles, ultimamente, vinham dando espetáculo. O Cido Garoto, de Sorocaba, é assim também. É claro que a cantoria é decorada, mas há pessoas que não ouviram o verso e pensam que ele foi feito na hora. É um espetáculo, e que faz o povo vibrar.

Hoje, o cururu está ocupando um espaço muito importante e muito grande. E Tatuí é referencia em cururu. Sabe por quê? Porque, antigamente, só se falava em Piracicaba. E Tatuí foi a primeira cidade a sediar um torneio estadual de cururu. Por cinco anos, vieram os grandes bambas do cururu, grandes cururueiros do Conservatório de Tatuí e nomes do folclore. Tudo isso nós devemos à nossa cidade de Tatuí.

Bem, Hélio, agora eu gostaria que você comentasse mais algum assunto que eu não abordei e que você quisesse falar, e fizesse suas considerações finais.

Hélio Beijo-Frio – Primeiro, queria agradecer essa oportunidade de dar entrevista para você. Para mim, é honrosa a entrevista, porque também sou seu fã, sou seu admirador. E, por outro lado, também porque nós sabemos que, quando você faz aquilo que você gosta, você faz com prazer.

Queria aqui, antes de mais nada, agradecer à minha diretora geral da Rádio Notícias, que é a Alessandra, que abriu as portas da rádio. Inclusive, deu toda autonomia para fazermos o nosso programa. Tanto o “Roda de Violeiros”, como o “Tarde Total” e outros também que, porventura, fizer ao cobrir as férias dos amigos. É bom demais.

Faço aquilo que eu gosto, faço aquilo que sei fazer da minha maneira, que acho que é certo. Quem sabe, muitas vezes, erro. Mas eu faço aquilo que o povo gosta. Haja vista que, hoje, nós temos um público muito grande, e o nosso programa de auditório é o único que acontece em toda a região. As rádios tentaram copiar esse modelo e não conseguiram, e nós continuamos sempre, graças a Deus. E graças às pessoas que acreditam no nosso trabalho.