Pedidos de recolha e denúncias de maus-tratos são maioria em Tatuí

Os pedidos de recolhimento de cães junto ao canil municipal e as denúncias de maus-tratos a animais respondem pela maioria das ligações registradas pela Divisão Municipal de Proteção e Bem-Estar Animal.

A equipe, sob supervisão de Eugênia Maria Camargo Campos, recebe ligações diariamente. Entretanto, boa parte delas não pode ser atendida.

“Algo que eu gostaria de deixar claro é que não existe mais carrocinha em Tatuí. Muita gente liga pedindo-nos que se recolham os animais, alguns que deram crias, outros que estão soltos na rua, outros, porque não querem mais”, enfatizou.

“Mas, não é assim que funciona mais. O canil é para os animais em situação de risco zoonótico e que precisam de cuidados veterinários”, ressaltou.

Conforme a supervisora, a população, de modo geral, ainda não se acostumou à nova política de funcionamento do canil. Tanto que algumas das ligações pedem que a equipe recolha animais que “estão latindo muito”.

Até 2013, segundo explicou a responsável, os cachorros eram recolhidos pelo Setor de Zoonoses, que atendia reclamações variadas. De quatro anos para cá, o serviço passou a ser mais criterioso. Em contrapartida, acresceu o recolhimento de animais soltos feridos, inchando em número os abrigados.

A equipe que assumiu no início deste ano quer mudar esta realidade. Para tanto, vai incentivar as adoções e orientações sobre posse responsável. O objetivo é manter no espaço somente os cães que não tiverem condições de “estar em sociedade”.

Uma das medidas diz respeito à seleção dos animais enviados ao espaço. Conforme explicou Eugênia, o trabalho abrange até as denúncias. Antes de adotar qualquer medida, a equipe averigua as denúncias que chegam por telefone, e-mail ou em canais como a ouvidoria municipal.

“As mais comuns são pedidos de recolhimento de animais por maus-tratos”, comentou a supervisora. Os motivos das denúncias vão desde cães amarrados sem provisões, como água e ração, a agressões físicas contra os bichos domésticos.

Quando a equipe recebe as informações, ela segue um protocolo inicial que começa com a abertura de uma solicitação. Depois, o pedido (contendo os detalhes) é encaminhado ao setor responsável pela vistoria. Antes disso, Eugênia explicou que a divisão não pode adotar nenhum tipo de providência prática.

“Tudo vai depender da verificação ‘in loco’. É a vistoria que permitirá aos fiscais saber, primeiro, se a denúncia procede, ou não. Dependendo da situação, realizamos uma análise para definirmos como a questão pode ser resolvida”.

Em boa parte dos casos, a supervisora explicou que uma simples conversa resolve o problema. De acordo com ela, nem sempre as denúncias procedem. Mesmo assim, a equipe mantém diálogo com os proprietários dos animais.

A intenção é certificar-se de que algumas medidas serão adotadas para evitar que as denúncias – quando sem fundamento – voltem a ser feitas por pessoas que não querem nenhum tipo de barulho, por exemplo.

Durante as conversas, a equipe orienta sobre posse responsável. “Quando não vemos uma firmeza por parte do proprietário, prosseguimos o protocolo”, contou a supervisora.

Nas situações mais controversas e que podem representar riscos aos animais, a equipe registra um boletim de ocorrência. Quando as condições físicas dos cães estão comprometidas, outras providências são adotadas.

Segundo a supervisora, a equipe tem autonomia para avaliar se os animais estão sofrendo maus-tratos. Em casos positivos, eles são encaminhados a tratamento.

“Em situações nas quais as denúncias procedem, nós atendemos de outra forma. Prestamos cuidados na parte da saúde para os animais que estão desnutridos, com sarna, que são alguns dos sinais de abandono”, disse a supervisora.

Além das queixas por telefone, a divisão atende a animais resgatados. Um deles chegou pelas “mãos” do Corpo de Bombeiros. Contudo, o cão havia sido levado à Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente. A pasta não tem condições de prestar atendimento.

No dia seguinte, a equipe encaminhou o animal para os cuidados de um veterinário. “Ele recebeu atendimento particular, mas veio a óbito”, relatou Eugênia. O animal tinha problema de visão (estava cego) e não teve o dono localizado.

A divisão também teve a entrega de gatos no “Mangueirão”, sede da secretaria. Para estes animais, os atendimentos se restringem ao restabelecimento das condições de saúde, já que a Prefeitura não dispõe de gatil.

Muitos dos animais são levados à secretaria por pessoas que os encontram abandonados, perambulando pelas ruas da cidade. Eugênia explicou que os cães e gatos são soltos pelos donos, mas encaminhados à divisão por pessoas sensibilizadas com as situações deles, ou por atuantes em grupos de proteção.

Também há situações que estão tornando-se cada vez mais comuns. “Cada vez mais pessoas chegam aqui informando que encontraram os animais abandonados na frente das casas delas e dizendo não saber a quem recorrer”, contou.

De modo a auxiliar a população, em situações como essa, Eugênia antecipou que a divisão pretende criar canais para esclarecimento da população. A proposta do setor é informar o cidadão sobre como proceder quando se deparar com casos de abandono ou encontro de animais machucados.

Conforme a supervisora, quem procura a divisão quer encontrar uma solução. No entanto, nem sempre o setor pode resolver de imediato.

É o caso de atendimento veterinário. A divisão, por exemplo, não tem um veterinário disponível na sede da secretaria.

“Já tivemos caso de um animal atropelado que uma pessoa trouxe aqui, achando que tínhamos atendimento veterinário. Como na gestão anterior um profissional atuou aqui, as pessoas ainda pensam que ele continua”, informou.

O volume de trabalho da equipe é de pouco mais de um chamado por dia (1,03), considerando-se o número de solicitações feitas desde janeiro até o dia 14 de junho. No período, a divisão abriu 202 pedidos, de diversos assuntos.

Entre os mais graves, estão os abusos sexuais de animais. “É uma gama bem extensa. Os chamados são desde aviso de animais soltos na rua, cão latindo na frente da casa ou latindo para idosos ou crianças, que, de alguma forma, incomodam a pessoa que está fazendo a solicitação”, enumerou a supervisora.

Na zona rural

O secretário municipal da Agricultura e Meio Ambiente, Célio José Valdrighi, informou que a presença de animais abandonados é visivelmente maior nas zonas rurais. Conforme ele, a população busca mais o campo para realizar a soltura de cães e gatos.

“Tenho propriedade rural e cheguei a ver matilhas de cães. Notamos que as pessoas, para fugir da vigilância da cidade, procuram a zona rural para se desfazer dos animais. Esta também é uma constatação dos moradores do campo”, apontou.

De maneira geral, a maior concentração de animais abandonados está nas zonas periféricas da cidade.

Os bairros que registram maior concentração de animais de rua, conforme levantamento da divisão, são os Jardins Lírio, Gonzaga e Santa Rita de Cássia.

Sabendo disto, a secretaria vai priorizar as ações de castração nestas localidades.