Pátria deseducadora





Constada no PME (Plano Municipal de Educação) de Tatuí, a palavra “gênero” provocou, discussão no fim do mês passado, durante sessão extraordinária agendada para votação da proposta, encaminhada pela Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Turismo. O encontro aconteceu no dia 26 de junho.

A extraordinária contou com representantes da comissão municipal responsável pela elaboração do PME. Por conta do impasse relacionado à questão da “ideologia do gênero”, o vereador Antonio Marcos de Abreu (PP) sugeriu a realização de uma audiência pública.

O encontro estava previsto para a tarde de terça-feira, 30 de junho, mas não aconteceu. Na reunião semanal, na noite do mesmo dia, o parlamentar retirou o pedido de audiência.

Ele informou que os vereadores haviam entrado em consenso a respeito do tema. Na primeira discussão, Luís Donizetti Vaz Junior (PSDB) ocupou a tribuna para se posicionar.

O parlamentar disse não concordar com o emprego de material didático, distribuído nas escolas pelo governo federal, que trata a respeito de sexo e gêneros. Conforme o vereador, esse tipo de educação cabe somente aos pais.

O Plano Municipal de Educação tem validade de dez anos e, a exemplo dos projetos apresentados pelos municípios em todo o país, tem sido alvo de divergências, em especial pelo ponto em que trata da questão de “gênero” (masculino e feminino).

Conforme a secretária, essa divergência existe por conta da “falta de conhecimento”. Ângela disse que as pessoas estão “misturando os significados das palavras ideologia de gênero e gênero”.

Conforme ela, tanto no PME de 2008 como no atual, há citação da palavra. Para ambas as comissões (que elaboraram o primeiro e o segundo projeto), o gênero tem o mesmo significado.

Ângela também ressaltou que o projeto anterior e o de revisão estão de acordo com a Constituição Federal, com as leis de diretrizes e bases e os parâmetros curriculares nacionais.

De acordo com a secretária, há outro desentendimento sobre o significado da palavra discriminação. “Esta palavra não cabe apenas para a opção da sexualidade. Ela é muito mais abrangente, seu significado é o oposto da inclusão”, afirmou.

Ângela declarou que “as formas de discriminação podem ocorrer de diversas maneiras”. Entre elas, junto a alunos com “necessidades especiais” e por meio de “bullying”.

Em nota, a secretária menciona que não haverá mudança na grade curricular das unidades escolares municipais. Segundo ela, o ensino segue os parâmetros obrigatórios da base nacional comum.

Dessa forma, os alunos continuarão a ter aulas das disciplinas de matemática, português, geografia, história, ciências, educação artística, educação física, informática e inglês.

Alívio! Ainda bem que os alunos continuarão a aprender sobre as disciplinas básicas que podem dar suporte ao futuro deles – e do país, por consequência.

A priori, é fundamental lembrar que esse problema da “ideologização” do ensino, o qual, sistemática e propositadamente, vai dando menos importância ao “saber” e mais ao “aliciar” o jovem para determinadas tendências políticas, é um fenômeno nacional. Tatuí, apenas, é levada a reboque.

Entretanto, é um problema, e grave! Lembra muito – mas muito! – algumas das ocorrências mais catastróficas da história, com ilustre destaque ao nazismo, por exemplo.

Está enganado quem pensa que, ao longo da doutrinação nazista, as justificativas eram outras senão o “bem da nação”, os “interesses do povo”.

Hoje, quer se impor o “pensamento único” a pretexto de que se estaria combatendo a intolerância, defendendo as minorias.

Claro que é preciso atacar a ignorância, mas não se deve fazer isto em sacrifico da educação formal, até porque, como sempre, seria ela mesma – a boa educação – a melhor forma para se abalar a imbecilidade.

E não seriam outra coisa, por sua vez, senão imbecilidade, ignorância, estupidez, os motivos do preconceito por conta da cor de pele, da opção sexual, da condição social, da crença religiosa etc.

Simplesmente, qualquer indivíduo que agrida ou desrespeite seu semelhante deve ser punido (não confundir com brincadeira, piada, algo sadio e inerente ao ser humano, mas que está sendo demonizado pelo politicamente correto). Há leis para tanto.

No âmbito escolar, também é simples: basta confiar no bom-senso e profissionalismo do “mestre”. Cabe a ele observar e corrigir os desvios dos alunos. Porém, caso não se possa mais confiar no professor, então, para que escola?

No entanto, o que acontece é uma tentativa de imposição ideológica muito distante dos interesses didáticos. Por ela, tanto se busca tirar dos pais a responsabilidade de educar os filhos quanto a crenças e valores essencialmente pessoais, quanto instrumentalizar o sistema de ensino para a formação de “militantes” políticos.

Os pais não devem permitir. Jamais! Ensino religioso nas escolas não é bom. Ele compromete o estado laico e, por derradeiro, a pseudopaz garantida pelo sincretismo no Brasil. As “cartilhas de gênero” seguem no mesmo caminho, realçando as “diferenças”, não as relativizando.

De qualquer forma, tudo isso nada tem a ver com o ensino básico formal. O problema ainda é agravado quando se manifestam críticas a respeito, diante das quais a “militância” reage, estimulando ainda mais o conflito dos supostos extremos, tão em voga.

Quem discorda é acusado de preconceituoso, reacionário. E pior: alguns dos maiores opositores da ideologização são assim mesmo – como os que se opõem à “cartilha gay”, mas defendem o ensino religioso – desde que da religião deles, claro.

Mas, essa gente não representa os cidadãos conscientes, apenas gritam mais alto, por ocuparem funções relevantes, ou serem mais desavergonhadas e escandalosas.

Na verdade, é cada vez mais raro encontrar quem ainda queira assumir a educação dos próprios filhos, quem preze pela liberdade. Estes são os reais “cidadãos”, que discordam dos extremistas de ambos os lados.

Muitos preferem deixar ao Estado a função de educar – na prática, de doutrinar (daí o sucesso de Hitler e tantos outros déspotas). Pobre do Brasil se não houver freio na militância extremista, então fadado a um novo totalitarismo, péssimo seja à esquerda ou à direita.

Fazer o quê? Rezar? Ótimo, desde que seja dentro dos templos, ou na particularidade de nossas casas – onde, também, é conveniente se discutir e praticar as questões sexuais. Escola é lugar de estudo.