O pintor naturalista

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Entrevista com o artista plástico tatuiano Mingão, o Domingos Jacob Filho. O pintor campestre, ou o pintor “country”, pintor rural, ou, ainda, o pintor naturalista.

Nossa história remonta os anos 70, quando fomos estudar em São Paulo, ou seja, “fazer o cursinho Objetivo”, que era um dos únicos que existiam na época. E quem era o padrinho oficial dos tatuianos, lá, era o professor Acassil, que sempre dava um jeito de conseguir bolsas de estudos para, assim, conceder bons descontos a todos os nossos pais.

E lá fomos nós, eu, meu falecido irmão Diógenes, o Dió, e o Adalberto Barros Costa. Ainda, José Antônio dos Santos, filho do doutor Eugênio dos Santos Neto e dona Maria – que hoje moram nos Estados Unidos – e que sempre levava bolo de fubá para alegria das nossas segundas-feiras, à noite, e era regado a leite de saquinho gelado.

Também morava com a gente mais alguns dos amigos, como o Coelho e o Mingão. Morávamos na República, conhecida como “A Pensão do Celeste – a única que fazia comida que preste”. A pensão ficava na travessa Santa Ernestina, uma rua sem saída, no Paraíso, bem no início da avenida Paulista.

Éramos uma grande família de amigos, com “A” maiúsculo. E como todos gostavam de música, muitas vezes, íamos, a caravana toda, até o Teatro Bandeirantes, na Brigadeiro Luiz Antônio, para assistirmos show de rock. E vermos de perto: Rita Lee e o Tutti Frutti, Gilberto Gil, o Terço, Made in Brazil, entre outros. Mas, o tempo passou.

E, lá, o nosso entrevistado desta semana, o Mingão, foi se tornando meu amigo também. Depois de exercer várias profissões, ele passou a fazer o que mais gosta: que é pintar em tela, revelando-se um grande artista.

Possui centenas de telas expostas em vários locais da nossa cidade e fora dela, também. Inclusive, na “Churrascaria O Costelão”, do nosso também amigo Pedro Vanin. Mas, vamos saber um pouco mais da história do nosso pintor.

Nome

Domingos Jacob Filho. A maioria dos amigos me chama de Mingão, e meu nome artístico, com o qual eu assino meus quadros, é Mingo Jacob.

Local de nascimento, dia, mês e ano

Mingo Jacob – Tatuí, 6 de junho de 1955.

Quando percebeu que tinha jeito para a pintura?

Mingo Jacob – Na realidade, Voss, desde criança. Nos meus cadernos, já desde o tempo de ginásio, a metade deles era feita de desenho. Aí, a gente vai percebendo que gosta de desenho. Eu fazia desenhos coloridos com lápis; depois, com guache, que já era minha prévia na história da pintura.

A família toda já percebia que a gente gostava. Mas aí, eu estava muito indeciso com tudo na vida. Adolescente, não sabia se queria seguir a carreira. E parti para muitas coisas. Acabei terminando na pintura a óleo, que é o meu foco.

Você fez algum curso de pintura?

Mingo Jacob – Não. Em 80% da minha carreira artística, nunca fiz curso. No ano de 2010, se não me engano, fui fazer um aperfeiçoamento com um mestre da pintura em São Paulo, chamado Carmelo Gentil, na Associação Paulista de Belas Artes.

Fiz oito meses de curso lá e aperfeiçoei-me muito. A partir desse curso, comecei a participar de salões importantes aqui do nosso Estado e ganhei prêmios. Inclusive, medalha de ouro.

Mingão, você se especializou em retratar áreas rurais, paisagens, gado pastando. Imagens que nos remetem ao mundo rural. Você morou na zona rural? Por que tem essa predileção?

Mingo Jacob – Minha família é toda de Torre de Pedra e Porangaba, zona “super-rural”. E os meus avós eram de lá. Meus pais nasceram lá, irmãs. Minha família veio para Tatuí, onde nasci, porque a minha irmã mais velha tinha que estudar. Mas, todas as primeiras férias que tínhamos, passávamos lá, no sítio do meu avô.

Então, foi aí que começou a me despertar. Andei muito em carro de boi, a cavalo, e ia pescar em rio. Isso foi ficando gravado na minha memória.

Depois, nos primeiros contatos que tive com pintura, um ídolo para mim foi um pintor chamado Almeida Júnior, que é falecido. Um grande mestre da pintura, no final do século 19 ainda. Apreciando as pinturas dele, estudando os quadros, vi que minha vocação era para essa área de pintura, para esse tema, que são as paisagens rurais, e que foi crescendo.

Hoje, me dedico muito a esse tema, embora eu também faça outros temas, porque sou profissional. Muita gente vem pedir coisa, retratos de natureza morta, entre outros. Inclusive, até abstratos eu fiz (risos).

Lembrei-me que, quando moramos em São Paulo, você, uma vez, pintou um rosto meu, olhando uma foto 3 por 4. Eu era conhecido pelo cabelo crespo, eu era o Caracol. Você não faz mais isso?

Mingo Jacob – Você me mostrou esse trabalho há alguns anos atrás, na Amart, e chegou até a me emocionar, porque já fazia quase 20, 30 anos que eu tinha feito aquilo. Pois é. Isso já mostrava a minha aptidão. Eu já gostava de fazer retratos, e até hoje eu faço, se precisar, faço a óleo.

Mingão, quando conclui uma obra, presumo que ela passa a ser como se fosse um filho para você. Como é passar tanto tempo, tanta concentração, tantos detalhes e, de repente, uma pessoa se interessar por aquela obra, comprar e levar. Com você, fica um remorso, uma tristeza, ou isso é normal num artista?

Mingo Jacob – No começo, realmente, me dava essa sensação. Eu não diria tristeza, mas é um ciúmes. Eu quero lembrar a todos que estão lendo, que eu sou pintor que faz quadros originais, meus mesmo. Eu tiro fotos, adapto. Muitos pintores fazem cópias de outros quadros; os meus são originais. Portanto, é um pedaço de mim.

Mas, com o tempo, a gente vai ficando um pouco mais acostumado. Sou profissional, preciso e vivo da venda dos meus trabalhos, das minhas aulas. Então, hoje em dia, já superei isso. Inclusive, uma boa parte dos quadros que vendo, sei onde eles estão. São pessoas conhecidas, alunos meus. Tenho a impressão de que tenho um filho que está sendo cuidado por um amigo.

Mingão, Tatuí é uma cidade que possui muitos artistas plásticos. Você acredita que, por causa da música, dessa cultura, isso desperta a sensibilidade, ajuda a despertar a arte entre as pessoas que gostam de pintar?

Mingo Jacob – Sem dúvida. Nós fizemos uma associação de artistas, há um tempo, onde participavam todos os tipos de artistas: os plásticos, o pessoal do teatro, da música. Na realidade, tudo isso é uma coisa só. Inclusive, quando dou aula para os meus alunos, comparo muito a aula de pintura com a de música. A música você tem que educar o seu ouvido e a pintura, tem que educar os seus olhos. Tem muito a ver os tons de cores com tons musicais. Tem muita coisa em comum. Sem dúvida, música e pintura andam juntas, andam de mãos dadas.

O seu pintor predileto?

Mingo Jacob – Eu falei um pintor que me influenciou muito, Almeida Júnior. Além dele, gosto de citar os brasileiros, como o Pedro Alexandrino. E os modernos. Adoro Di Cavalcanti, Picasso.

Embora eu pratique arte acadêmica, gosto de todo tipo de arte. Inclusive, os trabalhos contemporâneos. Tenho amigos fazendo arte contemporânea e de alta qualidade. É o caso da Raquel Fayad, da Marli Fronza, entre outros.

Quantos quadros você calcula que já pintou?

Mingo Jacob – É difícil, mas penso que fiz coisa entre 700 e mil quadros.

Você também pinta pessoas. Aceita encomendas, por acaso, de um cidadão que quer retratar a propriedade rural, ou então um quadro de natureza morta, uma foto de alguém, ou de uma pessoa que queira posar nua?

Mingo Jacob – Olha, nu eu ainda não fiz. Mas, se aparecer, com certeza, eu faço (risos). Já fiz muitas encomendas. É o que eu mais faço. Os meus quadros mesmo, vendem, mas as encomendas são muitas. Quadros de propriedades rurais já fiz várias vezes.

Também faço retratos de pessoas. Aqui aparecem casais, marido querendo dar de presente o retrato da mulher de aniversário. Há pouco tempo, fiz um casal que celebrava bodas. Os filhos fizeram um grande quadro do casal, já idoso, para ficar de presente.

Em Tatuí, as pessoas têm o hábito de prestigiar as exposições de arte?

Mingo Jacob – Olha, vou ser bem sincero: é meio lento, devagar, e não é coisa de Tatuí. É coisa do próprio Brasil. Existem cidades um pouco mais culturais, mas a gente, quando criou uma associação, um dos nossos objetivos era construir público. E começamos com crianças, chamando as escolas para ver exposições. Inclusive, parece que nós estamos colhendo os frutos agora.

Aqui mesmo, recebo pessoas no meu ateliê, professores já trouxeram alunos para ver. Também já fui até escolas dar pequenas palestras para a criançada. O público está crescendo.

Existe alguma tela que marcou a sua carreira como pintor? E onde ela está exposta?

Mingo Jacob – São as telas retratando Tatuí. Já fiz uma exposição há três anos, com o título “Tatuí na Visão do Artista”. Fiz 23 telas retratando a cidade. Todos os monumentos, praticamente, eu fiz. Inclusive, fiz o rio Tatuí, o ribeirão do Manduca.

E uma tela especial para mim é da Igreja da Matriz. Eu queria retratá-la, já que ela é um símbolo tatuiano.

Mas, eu pensava comigo, já tiraram tantas fotos, já pintaram ela toda. Daí, fiz uma tela dela pela parte de dentro. Ficou um quadro que emocionou muita gente. Ele está com uma pessoa de Cesário Lange, mulher do Jorge Fakri, cantor country.

Como é a sensação de ir a um local e ver a sua obra exposta?

Mingo Jacob – Ah, é indescritível. É um pedaço da gente que está ali. E é muito gratificante uma pessoa comprar um quadro que você faz. É um orgulho, emoção.

Tenho quadros já fora do país. Hoje em dia, com o advento da internet, as pessoas me pedem autorização para usar quadros meus. Um deles, como ilustração de capa de livro, no Rio Grande do Sul. É muito bacana.

Mingo, sempre soube que você curte muito Roberto Carlos. E que você possui todos os discos de vinil, CD. Você se considera, por ser pintor, um cara romântico? E qual é a musica do Roberto, ou as músicas que são trilha sonora para os seus quadros. Tem isso, ou não?

Mingo Jacob – Na realidade, quem é da nossa geração e começou a ouvir música nos anos 60 é quase impossível não gostar do Roberto Carlos. (risos). Só dava ele.

Não tenho toda a coleção dele, mas comprei alguns títulos internacionais. Uma pessoa vendeu-me uns discos em italiano dele, coisa que não saía aqui no Brasil. Fui pegando gosto e colecionando algumas coisas internacionais do Roberto.

Gosto muito das músicas dele, da fase da Jovem Guarda mais ainda. Mas, assim, influenciar em termos de quadro, não.

Você dá cursos de pintura?

Mingo Jacob – Com certeza, dou aula de pintura para qualquer pessoa. Quem estiver interessado, basta vir no meu ateliê, ou entrar na minha página no “Facebook”.

E tanto faz ser iniciante, ou não. O único “porém” é que a pessoa seja maior de 15 anos. Para criança, é meio complicado pintura a óleo. O meu ateliê fica na praça Antônio Prado, a famosa Concha Acústica, rua Humaitá, a parte de cima, 89. O preço é acessível.

Agora, suas considerações finais, Mingão.

Mingo Jacob – A primeira coisa, Voss, é agradecer você por dar essa oportunidade de contar um pouco do que a gente faz. O que eu queria comentar um pouquinho a mais é que, nesses últimos anos – não sei se o tatuiano sabe –, eu tenho conquistado alguns prêmios importantes.

No ano passado, ganhei o segundo maior prêmio do Salão de Piracicaba, que é considerado o salão mais importante do Brasil com artistas participantes de, se não me engano, 22 Estados brasileiros.

Lá, eles têm uma pinacoteca. Os trabalhos que ganham vão para lá, são de artistas de todo canto do Brasil. Inclusive, Tatuí está representada também lá.