O ‘Desafio da Baleia Azul’

Nas últimas semanas, o mundo todo passou a dar atenção para o “Desafio da Baleia Azul”, também chamado de “Jogo da Baleia Azul”. Para quem não conhece, o jogo consiste na execução de tarefas que colocam em risco a saúde física e mental de crianças e adolescentes. Assistir filmes de terror por horas, subir em telhados e pontes e cortar a si próprio são alguns dos desafios estipulados. O último e mais preocupante desafio é o suicídio.

Embora a polêmica tenha surgido somente agora, as questões presentes na transição entre a infância e a idade adulta sempre existiram. Precisamos falar sobre elas, pois falar sobre o “Desafio da Baleia Azul” sem refletir o que está por trás disso é como querer cessar uma febre sem tratar a infecção que a causa.

Antigamente, era comum crianças e adolescentes brincarem nas ruas. Com o aumento da violência em nossa sociedade, os pais sentem-se inseguros para permitir que seus filhos permaneçam fora de casa. Então, o cenário que temos atualmente é o de crianças e adolescentes dentro de casa, em contato com alguma mídia eletrônica (computador, celular, televisão, tablet) enquanto os pais trabalham ou executam as tarefas domésticas. É importante ressaltar que o acesso ao mundo da mídia eletrônica não deve ser proibido. No entanto, para que ele seja benéfico ao desenvolvimento das crianças e adolescentes, os pais devem monitorar o tempo e o conteúdo a que seus filhos ficam expostos. Estar dentro de casa já não é mais sinônimo de segurança e o “Desafio da Baleia Azul” vem para nos alertar sobre isso. Mas, então, o que fazer?

Primeiramente, deve-se compreender que a adolescência é um período de muitas mudanças físicas, cognitivas e psicossociais relacionadas à descoberta de identidade, autoestima e novos padrões de comportamento.

Com tantas mudanças acontecendo, é comum que os adolescentes apresentem dificuldades para lidar com elas sozinhos. Nessa fase, tornam-se mais vulneráveis e sentem-se mais pressionados por questões internas e externas. Por isso, é fundamental que pais, cuidadores e educadores auxiliem os adolescentes para que esses possam superar os obstáculos que surgirem ao longo do caminho. O diálogo aberto, empático e acolhedor, além dos momentos de descontração, são boas formas de se estabelecer uma relação de confiança entre pais e filhos. Esse diálogo não deve servir apenas para os pais colocarem os filhos no mundo de regras dos adultos, mas também para que conheçam e mergulhem no universo dos jovens, transformando, assim, a maneira de agir com eles. Além disso, deve-se estar atento aos comportamentos das crianças e adolescentes. Planejar, orientar e participar da rotina dos filhos, conhecer seus amigos, saber o que pensam sobre determinado assunto, abrir o seu coração e incentivá-los a isso também pode trazer bons resultados. Estando próximos, os pais terão mais condições de observarem mudanças de comportamento dos filhos.

A nossa atenção, carinho e cuidado podem mudar a trajetória de vida dos filhos. Precisamos nos desligar um pouco do mundo virtual para prestarmos um pouco mais de atenção ao mundo real das nossas crianças e adolescentes.

* Mestre em psicologia pela USP, facilitadora do Programa ACT – Para Educar Crianças em Ambientes Seguros. E-mail: duda.pedro@yahoo.com.br