Núcleo inicia militância com evento no CEU visando unir





Evidenciar a cultura negra, a figura da mulher e discutir o papel delas na sociedade. Estes são os objetivos principais do evento “Mulheres Negras em Cena”, agendado para este domingo, 3.

A primeira iniciativa do Núcleo de Defesa, Resgate e Promoção Étnica de Tatuí será realizada no CEU (Centro de Artes e Esportes Unificados) das Artes, localizado no bairro Boqueirão.

A proposta é fruto de semente plantada a partir de conversas entre as organizadoras – um grupo formado por dez mulheres – e o angolano Puppa Kanda.

Natural de Malanje, uma província em Angola, o músico reside em Tatuí e mantém contato com militantes da cultura negra. Foi dele a ideia da criação do núcleo, formado somente por mulheres.

Composto por apresentações de poesia, dança, música (“rap”, “street dance”, “hip-hop” e música popular brasileira), intervenção, contação de história, oficina de bonecas e estande para beleza, o evento se converte na representação das habilidades de cada uma das mulheres que integram o núcleo.

“Cada uma, com suas habilidades, vai valorizar a nossa etnia. Queremos lançar essa proposta para Tatuí, de valorização da cultura afrobrasileira”, disse a professora de educação infantil Elaine Cristina Almeida Pires. Integrante da organização, ela explicou que o evento será o “pontapé” do núcleo.

A partir do resultado, as militantes querem criar um calendário de atividades. “Queremos chamar as pessoas para formar cidadãos conscientes do papel na sociedade, da figura como pessoas negras”, apontou.

Segundo Elaine, o grupo de militantes é composto por mulheres que sofreram preconceito durante a infância e a adolescência. “Somos mães, e temos preocupação com os nossos filhos para que, de repente, eles não sofram o mesmo que nós. Por isso, o núcleo; por isso, o evento”, complementou.

Voltado ao reconhecimento da figura negra, o grupo não pretende se manter isolado. Desta forma, chegou ao formato “cultural”, para atrair pessoas de várias etnias. “Não queremos excluir ninguém, mas é um evento que enfatiza a cultura negra e valoriza o papel da mulher”, contou Elaine.

Conforme a professora, as atividades não consistem somente em entretenimento. Daí a realização de uma roda de conversa, para munir os negros – em especial, as mulheres – de informações sobre raízes e direitos.

“Na realidade, pensamos em mostrar um pouco de nossa cultura num evento só, juntando dança, vestimentas, beleza, palestras”, explicou Michele Rolim, que já integrou – e presidiu – o CMICN (Conselho Municipal dos Interesses do Cidadão Negro).

Michele e Elaine juntaram forças a partir de um debate no ano passado. Na ocasião, elas discutiram, com o professor José Mesquita dos Santos, o resultado da comemoração do Dia da Consciência Negra, em dia 20 de novembro. Em Tatuí, a Praça da Matriz recebeu atividades ligadas à data.

O encontro contou com participação de Kanda, resultando na ideia de que seria preciso uma ação mais significativa para a comunidade negra.

“Nós concluímos que o evento foi uma festa, que não foi comemoração da consciência negra. Não houve despertar para a cultura, para a valorização, ou mesmo para o fim da discriminação”, enumerou a professora.

Com o núcleo, as mulheres pretendem realizar eventos ao longo do ano. “Queremos que as pessoas estejam conscientes do que é aquilo, porque estávamos fazendo aquilo, porque existe a celebração do 20 de novembro no Brasil”, disse Elaine.

Para incentivar os participantes, a professora explicou que o grupo priorizou as habilidades das integrantes. Cada uma realizará atividades neste domingo.

O grupo se reúne virtualmente em datas aleatórias. Por meio de redes sociais, as mulheres discutem os preparativos e os pontos a serem trabalhados. Ao todo, dez mulheres estão em atividade. Entre elas, Marília da Conceição, que terá a primeira experiência em organização de evento.

Ela trabalhará em área dedicada à beleza, com penteados afros e tranças. “O nosso entendimento é de valorizar o cabelo”, disse. A questão é tão importante que deve, também, ser abordada em roda de conversa.

Segundo as ativistas, o cabelo liga, principalmente as mulheres, à discriminação e ao não reconhecimento delas como negras. Paula Cristina, por exemplo, disse que, quando jovem, queria alisar os cabelos por entender que o encaracolado não era bonito.

O mesmo ocorreu com as demais integrantes do grupo. Elas venceram o preconceito em momentos distintos das vidas delas e querem compartilhar a experiência.

O programa do evento conta, ainda, com a “Batalha do Junca”. Trata-se de uma “guerra de improviso” travada por homens que cantam rap. O evento é realizado todo domingo, na praça Cesário Mota, a “Praça do Junqueira”.

As atividades têm início às 14h e término previsto para as 18h. O CEU das Artes fica na rua Ana Rosa Monteiro, 475, próximo ao antigo curtume. A entrada é gratuita.