Municí­pio pode aderir ao emprego de cães para interagir com crianças

 

Prática comum na Alemanha, a “Hundegestützte Pädagogik”, ou educação assistida por cães, é empregada em diversos países e em, pelo menos, dois estados brasileiros. Tatuí, no interior paulista, pode fazer São Paulo se juntar ao Paraná e à Santa Catarina no emprego de cães para fins de interação com crianças.

O município estuda, por meio da Secretaria Municipal de Segurança Pública e Mobilidade Urbana, a possibilidade de implantar projeto semelhante por meio de parcerias. É o que informou nesta semana, em entrevista concedida a O Progresso, o titular da pasta José Garcia Alexandre Andreucci.

De acordo com ele, a Prefeitura quer levar a iniciativa para a Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) e escolas da rede municipal de ensino. Para isso, o secretário iniciará a partir deste mês uma série de reuniões com a entidade e a secretária municipal da Educação, a professora Marisa Aparecida Mendes Fiúsa Kodaira, buscando discutir e formatar o projeto.

Andreucci explicou que a iniciativa representa uma “nova etapa” no trabalho da GCM (Guarda Civil Municipal), mais especificamente, no Canil da corporação. O setor passará a realizar, com os oito cães que o integram, demonstrações e visitas às instituições para promover a interação com as crianças.

Em Tatuí, a experiência a ser realizada deverá manter o nome “Cãolegas”, utilizado no país. O projeto consiste, basicamente, em levar os cães para a instituição e as escolas para ações diversas. Estão previstas demonstrações e palestras educativas. Andreucci disse, também, que os guardas devem incentivar as crianças a manterem contato com os cães (labradores, pit bulls e rottweillers).

Segundo o secretário, os cães são considerados “objetos transicionais”, uma espécie de mediador entre mães e filhos. Desta forma, eles ajudam no desenvolvimento emocional e sentimental de pessoas e crianças especiais, independentemente da idade.

Na visão de Andreucci, o uso dos cães do Canil na escola pode trazer benefícios duplos. Primeiro, porque as escolas são tidas como “segundo lar” das crianças. Segundo, por conta da desmistificação da figura dos animais – que são empregados no combate ao crime – e dos próprios guardas municipais.

A proposta do delegado é abranger, inicialmente, as entidades que trabalhem com crianças. Com o tempo, o projeto deve ser levado a unidades que atendam jovens e adultos. Em ambos os casos, os cães são considerados instrumentos de socialização, uma vez que boa parte das pessoas já teve – ou mantém contato com – cães como animais de estimação.

O secretário ressaltou que o uso de cães em escolas não é “recente ou incomum”. Ele citou, como exemplo, os cães-guias utilizados por alunos cegos para se locomover. Na cidade, Andreucci afirmou que a equipe do Canil já desenvolve ações que visam à interação. Entretanto, de maneira mais acanhada.

“Os guardas fazem apresentações a convite e em ocasiões especiais. No entanto, pensamos em algo mais profundo e completo. Ou seja, um projeto desafiador para a corporação, uma vez que vai exigir mais dedicação”, comentou.

Além de uma equipe específica, a GCM terá de desenvolver um cronograma de ações. Precisará, para isso, do apoio de profissionais da Secretaria Municipal da Educação na elaboração das dinâmicas de abordagem. Também para que conheçam as diferentes realidades das unidades de ensino.

Para dar iniciar o projeto, Andreucci realizou pesquisas. Descobriu experiências semelhantes às quais ele quer realizar em Tatuí em escolas de Kansas City, nos Estados Unidos. Conforme ele, lá, a interação com os cães ajudam os alunos a desenvolverem o senso de responsabilidade, solidariedade e trabalho em equipe. Isso porque, eles se revezam para cuidar dos animais.

Nos estudos, Andreucci disse que pôde observar que as crianças que mantêm contato maior com animais de estimação acabam criando uma identificação. Segundo ele, os alunos comparam o sofrimento dos colegas de classe, molestados pelos demais, ao de cães que são hostilizados e se sensibilizam.

O resultado é uma diminuição de casos de “bullying” e a melhora da autoestima, especialmente de crianças tímidas. Andreucci disse que a interação também pode ajudar portadores de deficiência a desenvolverem suas aptidões.

Outro “ganho” relatado em estudos compilados pelo secretário é que os cães ajudam a acalmar crianças inquietas ou nervosas. Em situações como estas, os animais exercem a função de descontrair os alunos, que podem brincar com eles.

O projeto a ser desenvolvido em Tatuí segue moldes de ações aprovadas pela IAHAIO (International Association of Human-Animal Interaction Organizations – Associação Internacional de Organizações de Interação Humano-Animal). A entidade enfatizou que a participação dos animais de estimação no currículo escolar “estimula o desenvolvimento moral, espiritual e pessoal de cada criança, trazendo benefícios sociais à comunidade”.

No Brasil, Andreucci comentou que as experiências incluem a campanhas de posse responsável e educação humanitária. As ações são desenvolvidas com a presença de cães nas salas de aulas, facilitando a adaptação das crianças.

O projeto em Tatuí deverá começar pela Apae, a ser visitada pela equipe do Canil. De acordo com o secretário, o grupamento fará reuniões com os representantes da instituição, no intuito de buscar uma adequação ao modo de trabalho interativo.

As metas são permitir uma aproximação dos cães com as crianças e ajudá-las na socialização para, desta maneira, contribuir com “a evolução intelectual delas”.

“O trabalho foi desenvolvido em diversos países e cidades, e vem surtindo resultados significativos na evolução dos alunos. Portanto, a GCM, pensando sempre na segurança e na melhoria da qualidade de vida das pessoas, vai utilizar dois cães que deverão ser preparados para este projeto”, antecipou.

A diretora pedagógica da Apae Fabiana de Oliveira Bandeira informou que, até o fechamento desta edição, ainda não havia sido contatada para discutir o projeto. Ela declarou, também, que a entidade já é atendida por ação semelhante feita por uma equipe de Itapetininga. A demonstração realizada em datas específicas. A próxima deve acontecer no mês de abril, conforme agendamento.