Mapa Cultural promove ‘troca’ em Tatuí





Cristiano Mota

Jurados, representantes da Abaçaí e Jorge Rizek trocaram informações com artista selecionados em fases municipais de edição 2013/14

 

Estimular a produção cultural nas suas mais variadas formas é um dos objetivos abrangidos pelo Mapa Cultural Paulista. Em Tatuí, ele promoveu mais que divulgação, possibilitou troca de informações entre os participantes.

Eles interagiram com o corpo de jurados e entre si, nas tardes dos dias 23 e 24 de novembro. Nas datas, a cidade recebeu a fase regional do Mapa Cultural, em duas modalidades: artes visuais e literatura. O evento aconteceu no Centro Cultural Municipal, situado à praça Martinho Guedes, 12, no centro.

Conforme o diretor do Departamento Municipal de Cultura e Desenvolvimento Turístico, Jorge Rizek, esta não é a primeira vez que a cidade recebe a regional. O município já havia sido sede das modalidades literatura, no Museu Histórico “Paulo Setúbal”, e dança, no teatro “Procópio Ferreira”.

A modalidade artes visuais englobou artes plásticas, fotografia, escultura e desenho de humor, com atividades no dia 23; no dia 24, a etapa incluiu trabalhos de literatura, sendo conto, crônica e poesia. Nos dois dias, o salão de exposições do centro abrigou mostras de trabalhos produzidos pelos participantes.

No sábado, houve a exposição de 240 quadros, produzidos por 85 artistas. Já no domingo, a mostra contou com reprodução de textos inscritos em literatura. Em ambos os dias, a organização seguiu a mesma dinâmica, com explicação técnica do corpo de jurados e bate-papo entre os selecionadores e o público.

“Essa interação é muito proveitosa para os artistas, para a cidade e para a Abaçaí Cultura e Artes (responsável pela fase regional)”, considerou Rizek. Para ele, a iniciativa atingiu o objetivo principal que é de motivar o artista do município.

Segundo ele, o evento é, basicamente, um mapeamento cultural do Estado de São Paulo. Além de estimular os artistas, Rizek disse que ele representa uma oportunidade de aprimoramento técnico dos participantes em função do bate-papo.

“Tudo isso é muito proveitoso para a região. Acho que Tatuí, além de ser ‘Capital da Música’, tem que ser considerada ‘Capital da Cultura’”, argumentou.

Outro aspecto destacado pelo diretor do departamento, com o evento, é que ele potencializa a produção regional. Por causa de sua dinâmica de realização (o Mapa Cultural é dividido em fases municipal, regional, estadual e de circulação), Rizek disse que ele permite ao artista um conhecimento mais global. “Eles trocam figurinhas. Isso gera novos e melhores trabalhos, porque é importante ter essa comunicação com a região”, falou.

Ao mesmo tempo em que fortalece a produção cultural da região, o diretor comentou que essa etapa é “motivacional”. Em função do tempo de realização – o mapa regional é realizado ao longo de dois anos –, os artistas permanecem mais tempo interagindo com os inscritos por outras regionais do Estado.

Tatuí teve inscritos em literatura, artes visuais, dança, teatro e música. Eles participaram de seletivas do município e da regional – que se encerra em 18 de dezembro. Por esse motivo, a Abaçaí ainda não divulgou o nome dos que seguirão para a estadual, que será no primeiro semestre de 2014, antes da “circulação”.

“Quando se tem muitas inscrições, como tivemos, nós fazemos um concurso. Foi muito emocionante. Eu, por exemplo, cheguei às lágrimas diante da qualidade de músicos que se apresentaram”, relatou o diretor do departamento.

Mais que incentivar, a jurada de literatura Geruza Zelnys, destacou que a fase regional representa um momento de capacitação para os participantes. Segundo ela, é nessa etapa que os jurados podem divulgar os votos e as razões. As argumentações, conforme ela, ajudam os inscritos a se aprimorarem.

Os trabalhos em literatura foram julgados por nove profissionais. Contratados pela Abaçaí, eles corrigiram trabalhos produzidos por artistas de todo o Estado. As seletivas são realizadas por região. Tatuí está inserida na de Sorocaba.

Ao final das seleções individuais, Geruza explicou que os jurados costumam se reunir para discutir a produção da região. “É nesse momento que todos os aspectos são analisados”, comentou.

As fases municipais são de responsabilidade das prefeituras; as demais são geridas pela Abaçaí e têm trabalhos todos analisados pelo mesmo corpo de jurados. “É uma tarefa difícil, especialmente quando encontramos textos tão bons quanto em Sorocaba. Para chegar nos escolhidos é bem complicado”, disse a jurada.

Geruza elogiou a qualidade dos trabalhos apresentados pela região de Sorocaba e disse que as produções “são boas”. “É uma região de artistas, de pessoas que sabem se expressar bem e, principalmente, de leitores”, comentou.

Para a jurada, os trabalhos apresentados pelos artistas da região de Sorocaba denotam não só talento, mas dedicação. Segundo Geruza, os inscritos demonstraram, em especial nos textos, que buscam referências. “É um pessoal que tem grandes chances de participar e de ganhar vários concursos”, disse.

A fase regional teve início em julho e será encerrada em dezembro. No ano que vem, acontecerá a estadual e, até julho de 2014, começa a de circulação. É nesse período que os vencedores receberão prêmios e “circularão” para todas as regiões do Estado, por meio de palestras, exposições e apresentações.

Geruza também disse que a fase regional ajuda a estimular os selecionados e os não selecionados, isso porque oferece a todos eles uma espécie de capacitação com as trocas de experiências. “A discussão é o momento de indicar mudanças, de dar aos participantes ferramentas de aprimoramento”, argumentou.

As indicações valem para as prefeituras, para que realizem oficinas, palestras e encontrem alternativas para estimular e, com isso, aumentar a produção cultural de suas cidades. “Fora tudo isso, existe a possibilidade de as pessoas conhecerem o que está sendo produzido na região e ver os regionalismos”, falou.

Na região de Sorocaba, por exemplo, ela citou que muitos dos trabalhos faziam uso de recurso da morte, para tentar provocar um impacto. A minoria abordou questões culturais próprias, como os rios e matas e os costumes.

Kátia Cristina Mota, da cidade de Cerquilho, foi além e ousou. Ela escreveu o conto “A plataforma”, um dos dois selecionados para a fase estadual. O texto fala do relacionamento entre vizinhos e aborda, de maneira sutil, a homossexualidade. “É algo pouco falado, mas que está indicado de modo muito subjetivo no texto. Não está muito claro”, descreveu.

A escritora, que é professora de literatura, disse que se surpreendeu com a decisão dos jurados. Em especial, por conta do tema do conto. “O mais legal é que eu tenho um carinho muito grande por esse texto, justamente por ele mostrar esse assunto (a homossexualidade) de forma sutil, sem ser caricato”, disse.

Esta é a segunda vez que Kátia é selecionada para a fase estadual do Mapa Cultural. No evento anterior (entre 2011 e 2012), ela também havia chegado à terceira etapa. O mapa, para ela, é uma ferramenta importante de divulgação do trabalho. “Esse evento, para mim, é mais um termômetro de como funciona minha produção fora da rede de amigos”, encerrou a escritora.