Frios números

De maneira nada surpreendente, causou certa estranheza a divulgação de pesquisa apontando Tatuí como uma das cidades mais pacíficas do Brasil, publicada na edição desta quarta-feira, 7. E isto, mais ainda quando, em geral, os índices de violência no Brasil pioraram nos últimos anos.

Contudo, a pesquisa, intitulada “Atlas da Violência”, foi realizada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão insuspeito, com farta atuação na área de aferições.

Tatuí teve o terceiro melhor resultado na RMS (Região Metropolitana de Sorocaba) e figurou entre as 30 cidades com menores índices de homicídios no país. A pesquisa foi baseada em estatísticas de 2015.

Segundo o estudo, a taxa de homicídios tatuiana, combinada com o número de mortes violentas com causa indeterminada, registrou 11,1 casos para cada cem mil habitantes. O ranking nacional levou em conta 304 municípios brasileiros com população acima de cem mil.

No total, o Brasil somou, em 2015, 59.080 homicídios, dos quais, 11 em Tatuí. No mesmo período, foram contabilizadas duas mortes violentas com causa indeterminada. No total, houve 13 óbitos considerados com causas violentas.

De acordo com dados do SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade), do Ministério da Saúde, dos 11 homicídios ocorridos em 2015, seis acometeram jovens com idade entre 15 e 29 anos. Desses, cinco com lesões causadas por arma de fogo e um classificado como “agressão por meio de impacto de veículo a motor”.

No mesmo ano, houve uma morte com agressão por meio de objeto contundente, de pessoa com idade entre 60 e 69 anos. Outra morte foi decorrente de violência sexual. A vítima tinha idade entre 30 e 39 anos.

Quase 73% das vítimas de violência tatuianas são do sexo masculino. Das 11 mortes por agressão contabilizadas em 2015, oito vitimaram homens e três, mulheres. Outras duas mortes tiveram “intenção indeterminada”.

Do total de mortes “por causas externas”, os homicídios figuraram na terceira posição. Os assassinatos representaram 21% do total, que agrega 24 mortes em acidentes de transportes (38,7%), 17 casos de lesões acidentais (27,4%) e 8 suicídios (12,9%).

No recorte compreendido por cor ou raça, na cidade, há o predomínio de vítimas cuja cor foi relatada como branca. Dos 13 casos de mortes violentas, oito vitimaram pessoas brancas, uma negra, duas pardas e duas de cor “ignorada”.

Na RMS, Tatuí se situou entre as três cidades mais pacíficas, atrás de Votorantim, com 10,2 homicídios para cada cem mil habitantes, e Salto, com 10,5.

Na região, foram apontadas como mais violentas as cidades de Sorocaba, com 15,5 homicídios para cada cem mil, Itu, com 18,6, e Itapetininga, com 22,3.

Entre as cidades paulistas com população entre cem mil e 120 mil habitantes, Tatuí continuou entre as três melhores nos índices de homicídios. A lista é encabeçada por Votorantim e Salto.

No índice geral das cidades, Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, é a mais pacífica, de acordo com o “Atlas da Violência”. Com 3,7 homicídios para cada cem mil habitantes, a cidade, habitada por 163 mil pessoas, teve apenas cinco assassinatos em 2015, além de uma morte violenta com causa indeterminada.

O município paulista mais pacífico foi Americana, com 229 mil habitantes. O índice da cidade da RMC (Região Metropolitana de Campinas) foi de 4,8 homicídios para cada cem mil. Em seguida, vem Jaú, com 143 mil habitantes e 6,3 de índice.

Entre as cidades com população superior a cem mil habitantes, Altamira, no Pará, foi a mais violenta. Com 108 mil pessoas, o município paraense contabilizou 114 homicídios em 2015.

O índice de mortalidade violenta na localidade foi de 107 para cada cem mil habitantes, superior até ao de grandes cidades como São Paulo, onde foram atingidas 17,3 mortes para cada cem mil.

No período compreendido entre 2005 e 2015, mais de 318 mil jovens foram assassinados no Brasil. Apenas em 2015, foram contadas 31.264 mortes de pessoas com idade entre 15 e 29 anos.

Entre os Estados, o que mais reduziu o número de mortes entre pessoas desta faixa etária foi São Paulo, que reduziu em 49,4% o número de assassinatos no período.

Segundo o Ipea, os homens jovens continuam sendo as principais vítimas da violência. Mais de 92% dos homicídios têm como vítima homens com idade entre 15 e 29 anos. A parcela da população que tem cor negra é a mais atingida: de cada cem assassinatos, 71 têm como vítimas pessoas negras.

De acordo com informações do “Atlas”, os negros possuem chances 23,5% maiores de serem assassinados em relação a brasileiros de outras cores, já descontado o efeito da idade, escolaridade, sexo, estado civil e bairro de residência.

A proporção de óbitos causados por homicídios varia conforme a faixa etária. Na pesquisa nacional, o “Atlas da Violência” revelou que, quanto às mortes ocorridas entre jovens de 10 e 14 anos, 13,2% foram decorrentes de violência. Entre 15 e 19 anos, a proporção aumenta para 46,8%.

São números, “frios”, e inusitados pela particularidade de que, a despeito dos indicadores positivos, indicam mortes. Portanto, não merecem comemoração, embora, claro, seja sempre menos ruim quando diminuem os assassinatos.

Por sua vez, são índices a reforçar traços inerentes à violência brasileira, que mais vitima jovens, negros e menos abastados. E por isto já se evidencia, ainda, a correlação entre situação socioeconômica e segurança pública.

Diante deste contexto, apesar dos pesares, Tatuí estar entre as cidades menos ruins é algo muito positivo. Que assim continue – se possível, com esses frios números cada vez menos dramáticos.