Era um garoto que amava os Beatles, a Jovem Guarda e os Incríveis

Carlinhos Nunes

Bem, nesta sexta-feira, dia 9 de maio, um telefonema às 7h da manhã, muda totalmente a cara do dia. A notícia era muito triste e me avisava do falecimento do meu grande amigo, que me chamava de Big Voss, por causa do pseudônimo do Big Boy (o 1o DJ do Brasil na Rádio Mundial do RJ nos anos 60/70). Ele era o Carlos Roberto Ramos Nunes.

Com esse nome, ninguém o conhecia, porém, quando falamos de Carlinhos Nunes ou Carlinhos do Dr. Gualter Nunes, tudo muda de figura. Nos conhecemos ainda jovens, pois ele morava na rua Juvenal de Campos e, no quintal de sua casa, havia um campinho de futebol, onde nós forrávamos com raspas de madeira trazidas da Madeireira São Pedro dos senhores Gilberto Loretti e Pedro Vieira, ao lado da serraria do senhor Sebastião, que ficavam na rua Santa Cruz, esquina com a Cônego Demétrio.

Lá nesse campo, aconteciam grandes jogos, onde o Carlinhos era sempre o goleiro e eu jogava na frente. Mas, foi na música que a nossa amizade se solidificou, pois, nessa época, o Dirceuzinho e o Zé Emílio, que foram a base musical do The Johnnies, eram seus vizinhos.

Talvez por isso, começava o empréstimo de discos de vinil entre nós, e assim percebemos que gostávamos das mesmas músicas, e os anos 60 passaram a ser uma eterna fonte de conversas e amizades.

Eu sempre fã do Renato e seus Blue Caps e suas versões adaptadas dos Beatles e ele com Os Incríveis. E, de tanto ouvir aquelas músicas, também comecei a gostar desse conjunto musical que tinha uma formação com grandes músicos da Jovem Guarda: bateria — Netinho, baixo – Nenê, guitarra solo — Risonho, guitarra base —Mingo e o multimúsico Manito, que era a alma da banda.

E o nosso amigo era tão ligado nos caras, que tinha até os telefones residenciais de todos eles, e sempre se falavam. Ele trabalhou na Rádio Difusora de Tatuí-ZYK 683, que tinha os estúdios na rua 11 de Agosto, 195, onde hoje está a Drogasil.

Fazia parte de uma equipe de técnicos de som ou sonoplastas – como eram chamados -, ao lado de José Roberto Fonseca, João Bueno, Jairo Soares e outros.

Nessa época, trabalhava no “Jornal do Meio-Dia”, com Ari Pereira Borges; “Música tão Somente Musica”, com Costa Neves; “Show da Tarde” e o mito Teixeira, o Coronel do Sertão” e suas maluquices, como o sorteio de um caixão de defunto, que fez com que o repórter global Maurício Kubrusly viesse a Tatuí para entrevistá-lo.

E, nisso, o Carlinhos estava lá, firme nos botões, colocando músicas, aumentando ou diminuindo o microfone do locutor – para a época, um serviço bem complexo.

Aos domingos à tarde, lá estava ele com a equipe de esportes, ao lado de Altamiro Vieira, Zé Vicente e Pimpão (Willian Caporrino). Ele falava: “Rádio é a minha vida. Enquanto a Rose (esposa) fica na Sabesp, eu fico neste mundo fantástico de botões, pois sei que, do outro lado, tem alguém nos ouvindo…”.

Ficou casado com a esposa Rose, seu anjo amigo e companheira, com quem conviveu 48 anos, sempre um ao lado do outro.

Carlinhos herdou do pai, doutor Gualter Nunes, um coração maior que o mundo. A simplicidade, a dureza e o carinho, ele tinha remédio certo para todo mal que surgisse.

Com a voz calma, pausada e, muitas vezes, com sua conversa franca e amiga, transformava a pessoa, que saía do consultório otimista e, ali, já iniciava a sua recuperação.

Dentro de casa, a simpática dona Chiauita (sua mãe) sempre nos servia café com bolo de fubá, e eu e o Carlinhos fazíamos a casa tremer ao som de “O Milionário”, com Os Incríveis, e ela com a voz macia, pedia para baixarmos um “pouquinho” o som.

Como eu, infelizmente, não pude fazer essa homenagem póstuma no dia do seu enterro,  faço-a agora, e quem o conheceu não se esqueça de, nas suas orações, sempre incluir o Carlinhos, pois ele era um cara simples, amigo, que amava a vida e só praticou o bem.

Tenho certeza de que, no Céu, você já encontrou seus queridos pais e seus amigos dos Incríveis Manito, Nenê e Mingo. Descanse em paz, meu amigo. E onde você estiver, receba um forte abraço do Big Voss.