Cartas de amor levam artista de Tatuí­ a fazer residência na Itália





Divulgação

Raquel Fayad desenvolverá projeto em comunidade de San Sperate até o fim do mês que vem

 

A artista plástica Raquel Fayad desembarca nesta quarta-feira, 26, na Itália para uma série de compromissos. Ela desenvolverá no país trabalhos a partir do projeto “Cartas de Amor”.

Raquel embarcou ontem, terça-feira, e chega, primeiro, em Roma. Lá, permanece por quatro dias, onde se encontrará com Roberta Fainello, também envolvida com arte. “Ela morou durante muito tempo em Tatuí e fazia pinturas em cerâmica. É como se fosse uma irmã italiana que eu tenho”, disse.

Da capital italiana, Raquel viaja para Veneza, onde participará da Bienalle Arte (Bienal de Arte). “Quero dar uma passada por lá para ver o que está acontecendo no mundo da arte. Depois, sigo para Sardenha, onde faço a residência”, contou a artista na manhã de segunda-feira, 24, na véspera do embarque.

Em Sardenha, Raquel integrará projeto de residência por um período de 19 dias, por intermédio de Zilamar Takeda, que morou na Itália e desenvolve trabalho de arte têxtil. “Ela fez amizade com um grupo que tem uma associação chamada Noarte e está sediada em San Sperate”, explicou a artista de Tatuí.

A comunidade italiana tem, aproximadamente, 7.000 habitantes e conta com um Centro Internacional de Intercâmbio. O espaço surgiu de um trabalho desenvolvido pelos habitantes desde 1968, mesmo ano em que Raquel nasceu.

Desde então, recebe artistas do mundo todo para pinturas murais e instalações. A comunidade está localizada na planície de Campidano, a 19 quilômetros de Cagliari. O centro de San Sperate fica entre dois rios: Mannu e Flumineddu.

Os artistas de diversos estilos são convidados a conviver com a comunidade e a desenvolver um projeto para a cidade. Eles são hospedados e, cada um, dispõe de um ateliê próprio para realizar os trabalhos. Os projetos são discutidos com os moradores em reuniões por meio da associação.

A etapa seguinte consiste em conhecer a cidade para que o artista possa definir qual trabalho realizará e onde ele se tornará mais viável. “A proposta inicial é escutar as pessoas, as histórias de amor e, a partir daí, deixar um mural com trechos dos relatos dos participantes”, antecipou Raquel.

Em Sardenha, a artista terá de trabalhar intensamente para concluir a proposta e apresentá-la para a comunidade. A instalação permanecerá em San Sperate por tempo indeterminado, no espaço denominado de “Paese Museo”.

Raquel iniciará as reuniões no dia 3 de setembro e permanecerá na comunidade até o dia 22 do mesmo mês. Além da artista que reside em Tatuí, outros convidados serão agregados à residência, cada um desenvolvendo pesquisa própria.

“Os organizadores representam uma organização muito séria que se reúne uma vez por semana para verificar os espaços na cidade. E, lá, as pessoas pintam o chão, as paredes. É como se fosse um lugar que parou no tempo, mas muito interessante. Eles vivem para isso, as pinturas e as artes”, contou a artista.

A associação em San Sperate é presidida por Pinuccio Sciola, artista italiano renomado e que acompanhará todo o processo de desenvolvimento dos convidados. Sciola é um escultor conhecido pelo trabalho na promoção de murais, por produzir esculturas e, especialmente, pelas “pedras de som” – por tirar sons das pedras.

Em viagens pela Europa, ele trocou experiência com diversos artistas. Entre eles, Sassu, Giacomo Manzu, Fritz Wotruba e Henry Moore. Na Itália, ele dirige o Museu de San Sperate, um espaço que atraiu a atenção da Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

Excursionou pelo México, em 1973. Participou da Bienal de Veneza em 1976, e, no mesmo ano, expôs em várias cidades da Sardenha e em Bolonha.

Suas obras, especialmente esculturas, fazem parte de coleções públicas e privadas e estão expostas em vários museus e praças, parques e lugares na Europa. Os trabalhos do artista são vistos na Holanda, Bélgica, Paris e em Viena.

Sob orientação de Sciola, Raquel deve acrescer com novos dados a “pesquisa do registro amoroso da humanidade”. O trabalho resultará em documentação em vídeos e fotos que serão trazidos para Tatuí. “Eu deixo para eles o trabalho e retorno com mais informações sobre o tema. São outras histórias de amor, com diferentes visões sobre o assunto”, declarou a artista.

Na comunidade, os trabalhos dela comporão acervo da associação Noarte. A entidade é composta por artistas, técnicos, profissionais liberais, aposentados, professores, jovens e adultos. Eles integram grupos divididos por afinidades.

O principal objetivo da associação é o intercâmbio cultural, motivo pelo qual cada projeto envolve a participação de artistas internacionais. Os convidados se encontram em Sardenha e recebem apoio para se expressarem e criarem obras “intimamente relacionadas” com o lugar que escolheram para trabalhar.