BELEZA SEM CRISE – Inverno estimula a procura por clí­nicas





É de conhecimento geral – entre os profissionais – que o inverno representa a “alta temporada” para o mercado da beleza. Em Tatuí, a queda nas temperaturas também faz com que a procura por procedimentos estéticos aumente.

Os clientes que vão às clínicas buscam desde os tratamentos mais simples, como limpeza de pele e clareamento, até os mais sofisticados e que envolvem cirurgias, como lipoaspiração e colocação de prótese mamária.

O grande movimento nos centros estéticos mostra que o setor está sofrendo pouco com a crise financeira que atinge o país desde o ano passado. O mercado da beleza ganhou musculatura nos últimos anos, quando a taxa de crescimento “chinesa” – de dois dígitos – dava novos patamares à atividade econômica.

Os brasileiros destinam 2% do orçamento mensal à compra de produtos de beleza. Com faturamento estimado em US$ 43,5 bilhões anuais, o mercado nacional é o terceiro maior do mundo, perdendo somente para a China e os Estados Unidos.

Os gastos com beleza deixaram o status de luxo do passado e são vistos como necessidade pela maior parte da população, segundo pesquisa realizada pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e pela CNDL (Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas). O diagnóstico mostrou que 65,7% dos entrevistados consideram o investimento em beleza como necessário.

Em Tatuí, a realidade não é diferente. Com menos dinheiro no bolso, as clientes das clínicas de estética não deixaram de ir aos consultórios. Entretanto, estão escolhendo procedimentos mais baratos e atrasando a realização de cirurgias.

A busca por procedimentos estéticos faciais aumenta em até 80% no inverno. Neste ano, o percentual se manteve no mesmo patamar, como conta a esteticista Luciana Soares Amaro Caldana, da Clínica Sigma. Os clientes dela procuram mais procedimentos como peeling, um método de clareamento e rejuvenescimento da pele.

Luciana oferece dois tipos desse procedimento: o cristal e o diamante. Ambos usam a técnica de esfoliação para renovar a camada superficial da pele.

As camadas externas do tecido são destruídas e o próprio corpo se encarrega de produzir novas, eliminando manchas, cicatrizes e marcas de expressão.

No primeiro tipo, a esfoliação é mecânica. O equipamento faz a sucção da pele e pulveriza cristais de óxido de alumínio, que promovem uma abrasão; no segundo, é utilizado um ácido que promove a escamação da pele, estimulando a derme a produzir uma nova camada.

A intensidade do tratamento varia conforme a necessidade do paciente. Peles com manchas mais escuras demandam número maior de sessões e descamação mais intensa no rosto.

“Não existe risco para o paciente, pois trabalhamos sempre com uma margem de segurança, seja na aplicação do creme, seja no uso da caneta diamantada”, disse.

Os peelings com maior poder de abrasão, mais invasivos, que descamam totalmente a pele, são aplicados somente por dermatologistas. Os profissionais podem usar produtos com maior concentração de ácidos. Entre as soluções, estão as de ácido salicílico, mandélico, glicólico e retinoico.

A procura maior por peelings no inverno deve-se ao clima ser mais ameno e a ausência de sol forte, que prejudicam o pós-tratamento. Como as camadas superficial e média da pele foram descamadas pelo procedimento, a exposição ao sol faz com que a derme se manche novamente, desperdiçando o tratamento.

“Aumenta a procura porque é inverno e as pessoas não tomam sol nesta época. Quando o cliente faz um tratamento na pele, fica sensível à exposição solar. Se a pessoa toma sol e não se protege, a pele tem grandes chances de ficar manchada”.

Apesar da preocupação com a luminosidade do “astro-rei”, os pacientes não precisam ficar preocupados nem trancados dentro de casa, fugindo do sol. Um protetor com FPS (fator de proteção solar) 30 é suficiente para evitar manchas na cútis.

“Eu indico aos clientes a usarem o filtro solar durante o tratamento para proteger a pele durante o dia. É só não abusar muito do sol e usar no mínimo o fator 30”, orientou.

O peeling não é um tratamento que deve ser feito exclusivamente no inverno, segundo a esteticista. Ele pode ser feito durante todo o ano, desde que o paciente não tome sol e use o protetor solar.

A procura de peeling é maior entre mulheres com idade superior a 30 anos. Pessoas mais jovens, de acordo com a esteticista, dão preferência a tratamentos como limpeza de pele.

“O peeling de cristal é procurado por pessoas de mais idade, porque a pessoa está com a pele mais enrugada. Então, pode fazer um tratamento mais abrasivo”, contou.

Também no inverno, a procura por limpeza de pele aumenta. Entretanto, esse procedimento é mais buscado por jovens e adolescentes. O tratamento elimina cravos e milium, pequenos cistos de sebo que ficam sob a camada superficial da cútis.

A sessão dura, em média, uma hora, e tem várias etapas, como a assepsia da pele, esfoliação e extração de cravos e milium. Durante o procedimento, a esteticista usa vapor de água para a abertura dos poros, para facilitar a retirada das impurezas. O tratamento é finalizado com uma massagem, aplicação de máscaras e protetor solar.

Os meses mais frios do ano também são atrativos para a depilação a laser. O método é conhecido por ser um dos meios quase definitivos de extração de pelos e requer das pacientes extremo cuidado com a luz solar.

De acordo com a esteticista Cristiane Lisboa, da Clínica Plenna, a recomendação aos pacientes é usar protetor solar nas regiões nas quais a luz laser foi aplicada, para evitar manchas.

“Por mais que o sol nesta época do ano esteja mais fraco, é complicado se expor. A pele pode manchar se não tiver nenhum tipo de proteção solar”, afirmou.

Os cuidados com a depilação a laser devem começar antes da sessão, segundo Cristiane. É necessário evitar tomar “banho de sol” antes porque a exposição pode atrapalhar o resultado.

A máquina de depilação emite energia em forma de luz, que é atraída e captada pela melanina presente na haste do pelo. Ao atingir o alvo – no caso, o folículo capilar -, a luz se transforma em energia térmica e o calor destrói a célula que produz o pelo.

“Apesar das restrições, pode fazer o ano inteiro. Eu trago o aparelho todos os meses do ano para fazer, inclusive, no verão. Mas, foco bastante na orientação para utilização do filtro solar”, contou.

O método é procurado por homens e mulheres. Enquanto eles buscam se livrar da barba, de pelos no peitoral, nas costas e nas axilas, elas gostam de depilar a laser a virilha, axilas e pernas.

“Muitos homens que trabalham com roupa social nos procuram para depilar as axilas, pois, na época de calor, a transpiração é grande, e ficam com a camisa molhada. Com a depilação, isso tudo melhora”, contou a esteticista.

Homens com pelos nas orelhas e no nariz também procuram o tratamento, que mata o folículo capilar e evita o renascimento do fio. O procedimento é realizado entre cinco e oito sessões, dependendo do tamanho do local e da quantidade de pelos.

Cristiane estima que, a cada sessão, aproximadamente, 20% dos pelos são eliminados. Para fazer o procedimento, o cliente precisa deixar o local raspado. A sessão é “levemente dolorosa”.

“Depois de alguns anos, a barba volta. Eu recomendo que o cliente faça retoques em duas sessões por ano, para estancar o crescimento da barba”, explicou.

Segundo a esteticista, o procedimento não é indicado para pessoas que têm pelos louros ou brancos. Esses fios têm pouca ou nenhuma melanina e não conseguem ser identificados pelo laser. Entretanto, ela indica que o cliente faça uma sessão de teste para verificar a eficácia do aparelho em pelos desses tipos.

A depilação a laser é “levemente dolorida”, de acordo com a esteticista. A dor varia conforme a espessura do pelo e aumenta conforme ele é mais grosso. “No caso de barba cerrada ou grossa, a depilação vai doer mais, mas é um tipo de dor suportável, não é tão forte”.

Para os casos de pelos claros ou brancos, que a máquina não consegue eliminar, a esteticista aconselha a retirada por meio de cera. A ressalva para o método manual é aplicar muitas vezes no rosto, o que pode dar flacidez.

“A depilação a cera agride um pouco as fibras da pele. Eu evito, por exemplo, depilar a sobrancelha com cera, pois pode deixar ela um pouco caída com o tempo. Nas outras áreas do corpo, indico que faça uma vez por mês”, orientou.

Muitas clientes de Cristiane vão à clínica à procura de um tratamento relativamente novo, que estimula a produção de colágeno da pele facial. O procedimento assusta quem o vê pela primeira vez, pois envolve sangue, mas é usado por celebridades como Kim Kardashian, Gisele Bündchen e Luciana Gimenez.

O “Dermaroller” é um pequeno cilindro com 540 microagulhas, que, passado sobre o rosto, estimula a produção de colágeno e elastina. Os microfuros feitos na pele causam leve sangramento e facilitam a absorção pela derme dos produtos aplicados pela esteticista.

O microagulhamento é indicado para rejuvenescimento facial, área dos olhos, cicatrizes de acne, região do pescoço, estrias e suavização de cicatrizes. O procedimento é considerado agressivo, entretanto, apresenta resultados logo na primeira sessão.

De acordo com a esteticista, o tratamento é seguro e não apresenta riscos de contaminação. A cada sessão, o cilindro é esterilizado e entregue para a cliente, que o leva para casa.

“Eu utilizo um ácido, e, em três sessões, a pele fica perfeita. Ela vai melhorando gradativamente a cada dia”.

Por ferir a pele e causar sangramento, os clientes têm receio de fazer o tratamento com microagulhamento. O medo desaparece na primeira sessão, garante a esteticista.

O público que mais procura o tratamento é feminino e com idade acima de 30 anos. Nessa faixa etária, começam a surgir as linhas de expressão e pequenas rugas, que são facilmente escondidas com o procedimento estético. Jovens com acne tardia também procuram o tratamento, que apresenta bons resultados.

“A gente estuda a necessidade do tratamento na avaliação. Muitas pessoas têm marcas de expressão, mas estão com a pele bem tratada e hidratada. Nestes casos, a gente procura outro tratamento menos drástico”, explicou.

As sessões de microagulhamento podem ser feitas durante o ano todo, com a ressalva de que, no verão, deve-se ter o cuidado de proteger a pele com filtro solar. A contraindicação é para pessoas que têm genética propensa a queloides (cicatriz em alto relevo), que podem aparecer durante o tratamento.

A alta da procura por procedimentos estéticos faciais no inverno compensa a queda da demanda por procedimentos corporais. Como as massagens, geralmente, envolvem cremes que têm a textura fria e refrescante, as clientes “fogem” desse tipo de tratamento nesta estação.

Tratamentos como a massagem modeladora, a criolipólise, o ultrassom estético e a radiofrequência registram queda na procura nesta época do ano. Eles voltam a ter demanda a partir de setembro, com a chegada da primavera e, com ela, o aumento da temperatura.

A massagem modeladora ajuda na circulação sanguínea, colabora na redução de medidas, enquanto a criolipólise ajuda na eliminação de gordura através do congelamento dela.

O ultrassom estético e a radiofrequência funcionam como adjuvantes no tratamento de gordura localizada e celulite. Enquanto o ultrassom ajuda eliminar o tecido adiposo, a radiofrequência estimula a produção de colágeno e elastina na região onde é aplicado. O número de sessões varia entre cinco e dez, conforme o tratamento.

No inverno, cresce também a procura por cirurgias estéticas. Na clínica Casa Corpo, do cirurgião plástico Ivan Machado, os mais procurados na estação fria do ano são os procedimentos de colocação de prótese, cirurgia de pálpebras e lipoaspiração.

A maior parte da clientela é formada por mulheres, que respondem por, aproximadamente, 80% dos pacientes.

“Essa época do ano, de junho a agosto, é o auge das cirurgias plásticas, em qualquer região do país. O que facilita é o clima mais frio e as férias escolares, que dão descanso para as mães”, disse.

Segundo o cirurgião, as mães ganham “folga” no recesso de meio de ano, quando não precisam levar os filhos para as escolas. A vantagem em relação às férias de dezembro é que, geralmente, as famílias viajam no final de ano, o que atrapalharia a recuperação de alguma cirurgia.

Outra vantagem levantada pelo médico é a melhor resposta do pós-operatório da paciente. Com o tempo mais frio, a área operada desincha mais rápido, o que facilita a cicatrização da região operada.

Procedimentos como colocação de prótese de silicone e lipoaspiração demandam, no pós-operatório, o uso de cintas estabilizadoras ou de compressão. O uso desses tecidos causa incômodo durante o verão e é mais confortável no inverno.

“Tenho pacientes que até gostam de usar no inverno, pois deixa o corpo quente. É o contrário do que acontece no verão, quando a malha pinica no corpo”, disse.

Entre dois e três meses após a cirurgia, o paciente deve evitar frequentar praias e piscinas e, sobretudo, a exposição ao sol, que mancha na região da cicatriz.

O cuidado é mais severo nos casos de lipoaspiração, procedimento que causa mais hematoma e tem maior risco de manchar. Nos casos de plásticas nas sobrancelhas, o paciente deve evitar o sol e usar óculos escuros.

“No inverno, não tem a tentação de viajar para praia ou nadar na piscina e pegar sol. No final de ano, a pessoa teria que se privar de um tipo de atividade que todo mundo faz na época. Tudo isso centraliza e todos pensam que, no meio de ano, é mais prático para rotina social e para o pós-operatório”, explicou.

A aplicação de cada tratamento estético (corporal e facial) varia conforme a necessidade dos pacientes. Os procedimentos são recomendados com base em avaliações (anamneses) feitas pelos profissionais. Indicações estas que serão abordadas na segunda reportagem da série especial produzida por O Progresso.

Na semana que vem, a série também apresentará dicas de cuidados estéticos que podem ser feitas em casa. As recomendações são de profissionais.