Alunos de Tatuí­ ganharão curso de piloto





Evandro Ananias

Aulas teóricas e práticas devem ser ministradas na sede do Aeroclube de Tatuí

 

Decolar, planar e pousar são procedimentos que devem fazer parte do cotidiano de estudantes de Tatuí a partir do mês que vem. Pelo menos sete serão selecionados para o projeto “Voa São Paulo”. As experiências serão oferecidas exclusivamente a alunos da rede pública de ensino com idades entre 17 anos incompletos e 18.

A expectativa é de que o projeto comece na cidade a partir do mês que vem, com o início do ano letivo. Na “Capital da Música”, ele será viabilizado pelo Aeroclube de Tatuí, em parceria com a Secretaria Estadual de Esporte e Lazer do Estado de São Paulo, a FBVV (Federação Brasileira de Voo a Vela) e a Prefeitura.

O Voa São Paulo é uma iniciativa de inclusão social que permite a formação de pilotos. Neste ano, atenderá estudantes de escolas públicas, com mais de 16 anos e até 18.

Segundo Cesar Augustus Mazzoni, presidente do Aeroclube de Tatuí, a faixa etária é definida pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).

Ela estipula que somente jovens acima de 16 anos (podendo ser com 16 anos e um dia) possam fazer o curso de formação. Na cidade, o aeroclube espera abrir sete vagas para jovens oriundos de escolas públicas. “Vamos dar o ‘start’ do projeto já na semana que vem”, antecipou à reportagem.

Para a formatação do projeto, Mazzoni disse que o aeroclube está recebendo apoio das secretarias municipais da Educação, Cultura e Turismo, e de Governo, Segurança Pública e Transportes.

“Vamos atender a alunos originários de escolas públicas, que terão a chance de se formarem pilotos de planadores e, futuramente, tentarem carreira na aviação civil”, comentou.

Até a sexta-feira, 30 de janeiro, os órgãos envolvidos ainda não haviam definido o critério de seleção dos participantes. Mazzoni explicou que o processo de escolha teria de ocorrer em consenso entre todos os aeroclubes que participarão da iniciativa. Entre eles, estão centros de formação em Bebedouro, Bauru, Marília e Rio Claro.

A princípio, os alunos serão convidados a participar do projeto, tendo “livre escolha” para fazer a inscrição. Depois da candidatura, deverão passar por análise, que pode envolver frequência, notas e comportamento.

Esses aspectos são considerados fundamentais para a seleção, uma vez que o curso exige comprometimento e competência por parte dos estudantes.

“Não é simplesmente chegar e sair voando. Os alunos terão matérias a estudar, serão acompanhados e precisam corresponder com empenho”, disse Mazzoni.

Para a etapa de seleção, o aeroclube contará com apoio da pasta da Educação. Conforme o presidente da entidade, a titular, Ângela Sartori, está colaborando em todas as etapas do projeto. “Estamos bastante alinhados. Também com o responsável pela pasta de Governo, delegado Onofre Machado da Silva Junior, com quem formamos um tripé”, comentou.

Tanto a seleção como a divulgação do início das inscrições serão feitas somente após a conclusão de todas as etapas de formalização do Voa São Paulo. Para isso, o Aeroclube de Tatuí contará com apoio da Prefeitura.

Num primeiro momento, o projeto selecionará 30 estudantes. Todos farão de um a dois voos 100% gratuitos. Os custos da experiência são bancados pela Secretaria de Estado, que englobou os voos como primeira experiência no projeto.

Mazzoni explicou que os 30 alunos selecionados farão voo acompanhados de instrutores. Eles voarão de uma a duas vezes em planadores.

A experiência permitirá que os instrutores concluam a segunda etapa da seleção. A partir do desempenho dos alunos, o Aeroclube escolherá os sete melhores.

Esses terão a chance de completar o curso de piloto de planador, oferecido gratuitamente. “Se tudo der certo, quando eles tiveram se formando, nós estaremos com o curso de piloto de avião aprovado (reportagem nesta edição)”, disse o presidente.

Caso os planos de Mazzoni se concretizem, os formandos poderão “engatar” uma segunda formação e tornarem-se pilotos de aeronaves movidas a motor. “Daí, é um passo para a aviação comercial”, afirmou.

O curso oferecido aos adolescentes da cidade não traz alterações no conteúdo em comparação com o ministrado no Aeroclube de Tatuí para alunos particulares.

“É a mesma formação que integra o ‘nosso gabarito’, não mudamos nada em termos de conteúdo. A única coisa é que os estudantes serão acompanhados mais de perto, para que possamos ter visão dos resultados”, falou Mazzoni.

Para os jovens, o curso deve representar “novos horizontes”, uma vez que terão contato com diversos profissionais. Conforme o presidente, essa interação proporcionará “novos conhecimentos”.

“Eles estarão inseridos em outro ambiente, no qual haverá pessoas de vários lugares. Entre os professores, estão engenheiros, médicos e empresários. Todos, no mesmo ambiente. Quem desfrutar do curso, pode ter muito mais conteúdo aprendido dentro da troca de experiências”, sustentou.

De forma a tornar a formação menos “pesada”, os alunos estudarão parte do conteúdo do curso teórico juntamente com os instrutores. O motivo é a dificuldade da prova aplicada pela Anac. Conforme Mazzoni, além de difícil, o exame não é “100% igual ao conteúdo que está contido em cinco livros”.

“Algumas respostas teóricas são diferentes do que se aplica na prática. Então, é preciso preparar muito bem os alunos para que eles possam fazer o exame e serem aprovados”, comentou. Depois dessa etapa, os estudantes serão submetidos a exame médico da Aeronáutica, considerado “muito rígido”.

Só então poderão iniciar as aulas práticas, com voos acompanhados por instrutores nos planadores. Os alunos não poderão voar sozinhos, uma vez que a Anac não libera esse tipo de procedimento para pessoas com menos de 18 anos.

Entretanto, Mazzoni disse que a regra pode mudar no decorrer do curso. “Está para sair um documento que, talvez, autorize, pelo menos, um voo sozinho”.

A previsão é de que os alunos comecem a voar dentro de um ano a um ano e meio. O tempo deve-se às etapas a serem cumpridas (curso teórico, exame na Aeronáutica e primeiras noções de aulas práticas). Dentro desse prazo, o Aeroclube de Tatuí deve voltar a oferecer o curso de piloto de avião (privado).

Os estudantes farão o curso de piloto de planador aos fins de semana (sábados e domingos). Desta maneira, Mazzoni entende que os alunos não serão prejudicados.

“Não vai atrapalhar em nada o rendimento deles na escola. Ao contrário, nós esperamos que, com a disciplina que eles aprenderão, vão ter mais concentração e melhorar a proficiência. O curso deve ajudá-los mais na escola”.

Além da inclusão, o Voa São Paulo abrirá as portas aos estudantes para o “mundo da aviação comercial”. Os formandos em Tatuí poderão dar sequência à carreira no próprio Aeroclube, ou em outras instituições de formação.

“Tudo depende muito do momento da economia. Estamos passando por um período economicamente desfavorável, mas os jovens terão uma perspectiva”, falou.

Mais que conhecimento, os formandos sairão com “vantagem” junto ao mercado. Mazzoni explicou que, quanto mais cedo o piloto se forma, mais chances terá de crescer no mercado e ser contratado por companhia aérea.

Outras possibilidades são atuar no ramo de táxi aéreo, piloto agrícola (que trabalha na aplicação de produtos em lavouras ou no combate a incêndios florestais), ou ingressar como piloto de helicóptero. “Seguramente, quem se especializa, em quatro ou cinco anos, consegue ir para a aviação comercial”.

Mazzoni disse que o Aeroclube de Tatuí vai permitir “o primeiro passo” aos jovens. Também afirmou que a entidade pretende atuar para que o número de adolescentes em formação aumente. “Inicialmente, o que temos garantido é que serão sete, mas vamos ver o que conseguimos no decorrer do curso”, antecipou.

O entusiasmo tem explicação: em 2011, por conta da primeira edição do mesmo projeto, o aeroclube recebeu mais oito alunos dos seis que haviam começado. Eles vieram de vários lugares do Brasil, atendendo pedido da FBVV.