A sogra no controle

Ser sogra não é fácil. Sogra é amada, odiada, temida, sogra é tudo, menos ignorada. Esta história verídica é sobre uma sogra muito zelosa com seu genro, cujo nome e os demais personagens serão trocados para evitar disque-disque, e por segurança, porque praga de sogra pega mesmo!

Tudo começou quando uma bela mocinha se interessou por um mancebo estudante de piano no Conservatório de nossa cidade. A mãe da menina também havia estudado piano, tinha até um em sua sala, onde, de vez em quando, dedilhava uma valsa brasileira. Portanto, aprovou o namoro da menina com indisfarçável simpatia.

Mas, muito esperta, tal qual uma cobra (que as coitadas das cobras me perdoem), a sogra permitiu que eles namorassem apenas na sala e que, quando não estivesse presente, os dois deveriam tocar alguma coisa no piano, a quatro mãos, evitando, com isso, as delícias da mão boba.

A sogra, fiel integrante da TFT (Tradicional Família Tatuiana) percebeu, no entanto, que o rapaz, que tinha um certo talento, esperava que a moça tocasse com as duas mãos e, com apenas uma, fazia um malabarismo musical, dando a impressão de que tocava com as duas. Epa! Tinha mão boba sobrando! Mas a sogra não dava trégua, parecia um sargentão à procura de promoção, ficava ali, no sofá, um olho no tricô e outro no casal.

O moço, coitado, estava matando cachorro a grito. Mas, fazer o quê? Queria um beijinho, um afago, uma carícia… mas… ia levando…

A veia, eleitora fiel do Maluf, sabia que o preço da quase liberdade é a eterna vigilância, mantinha o casal sob severa marcação. Mas, os meninos pensavam exatamente ao contrário e esperavam o momento certo, que não demorou a acontecer.

Depois de um tempo de namoro, a sogra deu uma titubeada e dormiu na cadeira de balanço. Para quem cochila, o cachimbo caí, e o cachimbo caiu. Quando acordou do soninho gostoso, notou que o rosto do moço estava todo lambuzado de batom, assim como o pescoço, a camisa… Deus do céu!

Apavorada, percebeu que seu plano de castidade estava comprometido. Teria que agir rapidamente.

A ideia de tocar piano com quatro mãos estava virando três. Vigiar os pombinhos, sentada na cadeira de balanço, também não dava certo, o vai e vem a levava a dormir perigosamente. Então, teve a ideia de comprar uma pequena sineta, que, amarrada na mão do provável genro, teria que tocar de minuto a minuto.

Isso daria tempo para que ela fizesse alguns afazeres domésticos e, ao mesmo tempo, manter o casal sob controle. O moço, quando soube o que teria de fazer, quis rebelar-se, mas seu interesse pela jovem o fez desistir. E ficou, então, tudo acertado.

Triste, mas conformado, o casal tentou manter aquela bizarra rotina, mas, certo dia, o músico notou que o cachorrinho da casa, chamado Ceci, sempre por perto, era sensível ao olhar dos enamorados.

Bastava olhar para ele, que, imediatamente, chacoalhava o rabinho. E daí, foi um pulo para que a inteligência e desespero do casal criasse uma solução para o caso. Amarraram a sineta no rabo do cachorro, e, de minuto a minuto, dava uma olhada no bicho, que, alegremente, abanava o rabinho. Pronto! Aleluia!

A sogra ouvia a sineta tocando e pensava:

– Agora estou segura, está tudo no controle!

E o casal pensava:

– Agora estamos seguros, vamos tirar o atraso!