A mão (boba) de obra em Tatuí

Leitor, considere se isto parece-lhe estranho: você entra em um estabelecimento comercial, há funcionários, mas a conversa é tão animada entre eles (seja pessoalmente, no local, ou pelo celular) que a sua presença parece existir somente em espírito, já que ninguém o percebe.

Você pode até pensar: “Será que morri e não me dei conta?” A sensação macabra piora quando, no local, o próprio dono, do alto de sua soberba autoridade empresarial, sequer olha para a sua cara. “Não é possível, empacotei com um enfarto fulminante!”, você conclui.

É incrível, mas, mesmo em meio a esta crise tão violenta, ainda há quem não tenha compreendido a importância do bom atendimento, cujo paradigma, claro, parte de cima para baixo – do dono para os funcionários.

Por sua vez, é evidente a consciência de grande parte dos comerciantes, que já têm investido na melhoria do atendimento há tempo. Estes, não por acaso, conseguem prestar seus serviços e vender seus produtos até mais caro que os demais – embora similares – particularmente por conta da forma com que os oferecem e (importante) com que sustentam a chamada “pós-venda”.

Na prática, você, leitor, como qualquer cidadão, não aceita mais ser mal atendido sob qualquer hipótese. Assim, há diversas pesquisas a confirmar que, no momento da decisão de compra, o bom atendimento pesa mais até que o preço. Muitos já sabem disto – inclusive, em Tatuí – e têm buscado o aprimoramento de seus serviços – serão os sobreviventes desta crise, sem dúvida.

No entanto, quando nos estabelecimentos mais desatentos o funcionário é cordial e eficiente, percebe-se, com grande clareza, que se trata de educação pessoal, não de treinamento profissional. E, então, ressalta-se um dos maiores problemas da cidade: a falta de treinamento.

Esta carência é generalizada, em todas as áreas, como evidenciou o novo diretor do Departamento Municipal de Trabalho, Gustavo Grando, em reportagem publicada por O Progresso nesta quarta-feira, 16. A situação é tão grave que, a despeito da crise – e do consequente desemprego -, muitas vagas oferecidas pelo PAT acabam não sendo preenchidas.

Grando era diretor do Departamento Municipal da Juventude, no qual gerenciava programas de capacitação com jovens, e, agora, informa pretender juntar as ações dos dois setores (trabalho e juventude), visando qualificar os profissionais e encaminhá-los às vagas de emprego pelo PAT.

De acordo com o diretor, grande parte dos empresários e empresas especializadas em recursos humanos, de Tatuí e região, que procuram o PAT em busca de novos funcionários, reclama da falta de capacitação dos candidatos.

“Nestes primeiros dias que estou aqui, o pessoal tem comentado que tem vaga, mas eles têm dificuldade de encontrar pessoas qualificadas para preenchê-las. Isso é uma coisa que tem que mudar”, ressaltou.

Grando salienta que, com a crise financeira do país, as vagas estão bastante concorridas, e acrescenta que quem quiser se destacar tem que procurar cada vez mais qualificação.

“Nossa proposta é fazer um estudo com as empresas contratantes sobre qual o tipo de profissionais que eles mais precisam e quais vagas disponíveis, e, depois, com este estudo, oferecer curso nas áreas necessárias”, explicou.

“Estamos sentindo que a mão de obra mais simples não tem qualificação. Então, vamos focar neste público e oferecer cursos para área de limpeza, construção civil, eletricista, entre outras”, afirmou.

O treinamento, portanto, é absolutamente fundamental não somente para a sobrevivência dos empreendimentos, mas para a própria manutenção dos empregos. E mais: em um município de interesse turístico – MIT, como Tatuí -, com pretensão de tornar-se estância, a cortesia e o profissionalismo precisam extrapolar até o setor de comércio e serviços, alcançando uma consciência “popular”.

Quando todos os tatuianos entenderem isto, haverá ganhos incalculáveis. É certo que ainda muitos não creem no potencial tatuiano, alegando que “não há o que fazer na cidade”. Bobagem! Até despeito. Tatuí é a “Capital da Música”, “Cidade Ternura”, “Terra do Doce Caseiro”.

Ora, se nós, tatuianos, não dermos valor a isso, quem não mora aqui é que não vai… Todos querem um futuro melhor, uma cidade cada vez melhor, mas isto não acontece somente com operação tapa-buracos.

É necessária uma mudança de postura e empenho em todas as áreas. Tatuí precisa de capacitação para se desenvolver ainda mais e tirar proveito de suas virtudes. Portanto, mãos (atentas e treinadas) à obra!

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