A Cigarra Tatuiana

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Nesta semana, minha convidada para um bate-papo informal é uma senhora que quem a conhece sabe que a sua vida é cantar, alegrar, sorrir e transformar os momentos da vida das pessoas, mesmo que por alguns segundos, enquanto dura a sua música.

Por isso, estive pensando e resolvi batizá-la “A Cigarra Tatuiana”, porque esse inseto é aquele que canta naquelas tardes de verão e, quando se junta aos milhares, forma uma sinfonia de sons e dá colorido especial à nossa vida.

Após essa abertura, vamos iniciar essa entrevista, que foi recheada com bolo de fubá, suco de tangerina e a agradável companhia dela e de seu esposo João Machado. Com vocês:

Nome completo

Maria Inês de Camargo, conhecida como Maria Inês da Seresta.

Local de nascimento, dia, mês e ano.

Tatuí, 19 de janeiro. O ano… (risos).

Começou a cantar a partir de quando?

Maria Inês – Na verdade, canto desde os seis anos. A primeira vez que cantei foi na escola, em uma apresentação ao Dia das Mães. Ainda nem estava na escola, e fui para assistir e até participar. Na verdade, eu queria entrar na escola, e nem tinha idade, mas queria porque queria, e mamãe tentou e conseguiu me matricular.

Mas, não aguentei e fiquei só seis meses na escola rural da fazenda Santa Marina, de propriedade do senhor Sílvio de Lara, que fica na estrada Tatuí-Cerquilho. Iniciei lá, com a minha querida professora Julieta Sallum, a quem eu amo de paixão.

E assim aconteceu, que a menina que havia ensaiado tudo, mas, alguns dias antes do evento, ela teve catapora e não poderia participar. Foi então que a senhora Maria Aparecida Voss Campos, que era educadora sanitária, pessoa muito próxima de você, sua mãe, e a professora Julieta me colocaram para fazer a parte musical da menina. Essa foi a minha primeira vez.

Você estudou música ou sempre “cantou de ouvido”?

Maria Inês – Sempre cantei de ouvido e, com o passar do tempo, fiz parte do Coral do Conservatório. Porém, isso, muito mais tarde.

Pelo seu timbre de voz, percebemos que você tem um estilo mais próximo às músicas religiosas antigas. Acertei, ou isso é apenas uma observação minha?

Maria Inês – Não! Você acertou. É isso mesmo! Porque eu cresci no meio de tudo isso, pois mamãe, minha avó, a família toda do sítio onde fomos criados, participávamos muito com o padre Silvestre Murari em todos os eventos religiosos.

Você trabalhou e se aposentou em qual função?

Maria Inês – Sou aposentada como professora de datilografia, pois trabalhei na Escola Remington, de propriedade do senhor Oscar Augusto Silveira da Mota, entre os anos 1959 e 1960, dentre outras funções.

Você é muito afinada, grande intérprete, e seus agudos são superprecisos. Você ensaia muito? Canta sozinha em casa?

Maria Inês – Se eu contar que não canto pela rua, não ensaio muito. Só canto na hora em que vou cantar mesmo. Raramente, faço isso. Às vezes, acontece, mas é muito difícil. É tudo na “hora do pega”.

Quando mais jovem, você chegou a cantar profissionalmente com algum conjunto ou mesmo sozinha?

Maria Inês – Bem, entre os meus nove e dez anos, cantei com Cascatinha e Inhana. Em Tatuí, no tempo do antigo coreto na Praça da Matriz. Cantei ali com a melhor dupla feminina, as Irmãs Galvão. Mas, eu era muito jovem, criança de tudo. Agora, um momento muito importante foi cantar “Ave-Maria” com o Agnaldo Rayol, no Conservatório de Tatuí.

Qual é o estilo de música que você mais gosta?

Maria Inês – Gosto de todos, mas o que eu amo de paixão é a seresta. Cresci no meio disso, pois tivemos uma juventude maravilhosa no sítio. Os meus familiares tocavam muito, pois lá tinha violão, cavaquinho, violino, sanfona, pandeiro. Era uma pequena orquestra.

Você nunca pensou em gravar um CD?

Maria Inês – Eu pensei, e sonho muito com isso, sabe? Inclusive, fizemos uma gravação em casa, de forma bem artesanal, com o amigo tecladista Sandro, que, infelizmente, já não está entre nós. Ficou muito bom, sonho muito em ter o meu CD.

A partir de quando vocês montaram o grupo de Seresteiros com Ternura?

Maria Inês – Com relação a esse grupo, a primeira reunião que eu tive foi em 2000. E a primeira apresentação que fizemos foi no jardim que circunda o Conservatório, em 2002, embaixo do chorão, que fica de frente para a rodoviária e embeleza aquele espaço.

Quem é diretor do grupo? Quem é o responsável pela seleção de músicas do repertório e qual é a formação atual do grupo?

Maria Inês – Desde que iniciamos, sempre quem faz a coordenação sou eu. Cuido também do repertório, escolha de músicas, que passo para eles para que acertem harmonia e o acompanhamento.

A formação atual é: Léo, na sanfona; Pedro Adilson Pavanelli, no violão; Carlinhos Mendes, violão; Paulo Rita, que é pai do locutor André Aguiar, da Rádio Notícias, no violão e percussão; João Machado, percussão; José Celso Módena, flauta; e Edson, no pandeiro; e outros.

A seresta ainda existe, ou as pessoas não têm mais tempo para sentir saudades? Como você vê isso?

Maria Inês – Acredito que pouca gente sente saudades. O pessoal parece que está desligando um pouco. Acho isso muito triste, pois a seresta é uma forma de romantismo muito grande. É uma forma de trazer o amor para dentro da casa, pois a música nos faz viajar, sem sairmos do lugar. E isso está fazendo falta, e muita!

Você chegou a participar dos festivais de serestas realizados na Concha Acústica, em que vinham grandes nomes, como Nelson Gonçalves, Francisco Petrônio, Dilermando Reis e outros?

Maria Inês – Participei, sim. Em várias edições, estava lá cantando e aprendendo com aquele pessoal maravilhoso, tocando e cantando músicas maravilhosas. Um tempo inesquecível da minha vida.

Você gravou algumas músicas com um grande compositor tatuiano e que já foi entrevistado por essa coluna, que é o nosso amigo Roquinho. Você pensa em retomar a gravação de músicas novas com ele? Eu já ouvi a música “Anoitecer na Floresta” e gostei muito. Parabéns!

Maria Inês – Nós estamos com essa ideia, pois eu fui convidada, por ele, para fazer parte desse novo trabalho musical. E fiquei muito lisonjeada com o convite. Esperamos que, neste ano, possamos definir o trabalho.

Além da seresta, conte-nos um pouco das suas outras atividades artísticas que você desenvolveu e desenvolve, ainda, em Tatuí.

Maria Inês – Fui discotecária da Rádio Difusora de Tatuí ZYL5, de propriedade do senhor Oscar Augusto Silveira da Mota, entre 1961 e 1962. Também fui miss terceira idade em 1997, em Tatuí, e miss regional terceira idade, em 1998, em Itapetininga, onde fui classificada em segundo lugar.

Com relação ao Carnaval, compus sambas-enredo em 2011 e 2012 para o bloco do projeto Envelhecer com Qualidade de Vida, que pertencia ao Fundo Social de Solidariedade. Em 2013, compus para o bloco Falsa Modéstia, do Rogério Vianna. Participo, desde 2007, juntamente com os Seresteiros com Ternura, do projeto cultural Revelando São Paulo, onde represento Tatuí no estilo da seresta.

Lembro, com muito orgulho, que estou na seresta desde 1982, onde iniciei, ao lado da Celina Fiuza e Osmil Martins, e montamos o Coral da Seresta, onde também estavam João do Irineu, Zé Fiuza, José Celso Módena, Noel Rudi, Dito Rolim, Bossolan, Paulo Ribeiro, Nego do Violão, Zé Carlos do Violão, Roberto Rosendo, Pacheco e outros.

E, atualmente, coordeno, também, os corais Santa Cecília e Unidos em Cristo, ambos do Santuário Nossa Senhora da Conceição, da Igreja Matriz.

Inês, muito obrigado e, agora, suas considerações finais.

Maria Inês – Faço parte de tudo isso há muito tempo, com a graça de Deus. Agradeço muito a Ele, por esta oportunidade e ao dom que Ele nos deu. E a você, também, pois tenho podido fazer tanta coisa boa e repartir as emoções com todos que me ouvem.